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8 de janeiro de 2014

Entrevista com Elizabeth Roudinesco: 'Psicanálise é a medicina da alma do nosso século'

Com a clareza que lhe é peculiar, Elizabeth Roudinesco fala sobre a psicanálise na atualidade e no Brasil, sobre psiquiatria e psicofarmacologia e, é claro, sobre seu livro "Em Defesa da Psicanálise", que tem lançamento previsto para outubro no Brasil.
A entrevista foi publicada no Estadão. 


'Psicanálise é a medicina da alma do nosso século'


PARIS - Poucos intelectuais traduziram tão bem sua época como Sigmund Freud fez com o século 20. Em sua obra, estão expressas as bases de conceitos tão poderosos e, ao mesmo tempo, tão legíveis, que se tornaram parte do cotidiano com a velocidade característica de sua época. É o caso do inconsciente - um conceito já elaborado nos séculos 18e 19 por autores como Leibniz e Edward von Hartmann. Reinterpretada por Freud, a ideia de que o que falamos pode ter significados ocultos que fogem à esfera da consciência e, portanto, ao nosso domínio, é hoje reconhecível por todos.  

     
Resumir seu pensamento a esse conceito, porém, é limitar uma obra enérgica e influente, alerta Elisabeth Roudinesco. Psicanalista, historiadora, docente, escritora, discípula de Jacques Lacan, amiga de Jacques Derrida, Elisabeth é, aos 64 anos recém-feitos, um dos pensadores vivos mais importantes de sua área, a psicanálise - um dos legados de Freud à humanidade. Segundo a intelectual marxista, o médico neurologista convertido em gênio está por trás, de uma forma ou de outra, de todas as formas de emancipações vividas pela sociedade do século 20, das quais o feminismo e a liberação sexual são só dois exemplos evidentes.
Estamos a 70 anos da morte de Freud. O que ainda é tão representativo em sua obra? Por que ele é uma referência para a própria humanidade?
Ele é o único a ter teorizado, assim como seus herdeiros, o que chamamos de inconsciente. Não falo do subconsciente nem do inconsciente dos psicólogos. Eu me refiro ao inconsciente, que pode ser traduzido pela noção de que, quando alguém fala, não sabe o que diz. Há milhões de exemplos concretos, como o ministro do Interior da França (Brice Hortefeux), que fez declarações racistas na semana passada. Conscientemente, ele não é racista. Inconscientemente, sim. Mas julgamos alguém por seu inconsciente? Sim, se ele é ministro. Mas, via de regra, não podemos enviar alguém aos tribunais por seu inconsciente. Podemos dizer: "Comporte-se!" Muitas pessoas são inconscientemente racistas e antissemitas. Quando não há lei, esses sentimentos se exprimem.

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Leia a entrevista completa aqui



Fernanda Pimentel é psicanalista e atualmente cursa doutorado em Pesquisa e Clínica em Psicanálise na UERJ, pesquisando sobre a psicanálise na atualidade e a clínica contemporânea.
 Atende em consultório em Niterói e Copacabana.