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2 de novembro de 2014

6 de outubro de 2014

Ex-coordenador do DSM, a 'bíblia' da psiquiatria, admite: "Transformamos problemas cotidianos em transtornos mentais"


Em entrevista para El País, o psiquiatra Allen Frances, ex coordenador do DSM, critica a posição da última edição do manual, a influência da industria farmacêutica e a medicalização do mal estar. 

"Ex-coordenadordo DSM, a 'bíblia' da psiquiatria, admite: "Transformamos problemas cotidianosem transtornos mentais"


Allen Frances (Nova York, 1942) dirigiu durante anos o Manual Diagnóstico e Estatístico (DSM), documento que define e descreve as diferentes doenças mentais. Esse manual, considerado a bíblia dos psiquiatras, é revisado periodicamente para ser adaptado aos avanços do conhecimento científico. Frances dirigiu a equipe que redigiu o DSM IV, ao qual se seguiu uma quinta revisão que ampliou enormemente o número de transtornos patológicos. Em seu livro Saving Normal (inédito no Brasil), ele faz uma autocrítica e questiona o fato de a principal referência acadêmica da psiquiatria contribuir para a crescente medicalização da vida.
Pergunta. No livro, o senhor faz um mea culpa, mas é ainda mais duro com o trabalho de seus colegas do DSM V. Por quê?
Resposta. Fomos muito conservadores e só introduzimos [no DSM IV] dois dos 94 novos transtornos mentais sugeridos. Ao acabar, nos felicitamos, convencidos de que tínhamos feito um bom trabalho. Mas o DSM IV acabou sendo um dique frágil demais para frear o impulso agressivo e diabolicamente ardiloso das empresas farmacêuticas no sentido de introduzir novas entidades patológicas. Não soubemos nos antecipar ao poder dos laboratórios de fazer médicos, pais e pacientes acreditarem que o transtorno psiquiátrico é algo muito comum e de fácil solução. O resultado foi uma inflação diagnóstica que causa muito dano, especialmente na psiquiatria infantil. Agora, a ampliação de síndromes e patologias no DSM V vai transformar a atual inflação diagnóstica em hiperinflação... "







"Os laboratórios estão enganando o público, fazendo acreditar que os problemas se resolvem com comprimidos."











P. Seremos todos considerados doentes mentais?
R. Algo assim. Há seis anos, encontrei amigos e colegas que tinham participado da última revisão e os vi tão entusiasmados que não pude senão recorrer à ironia: vocês ampliaram tanto a lista de patologias, eu disse a eles, que eu mesmo me reconheço em muitos desses transtornos. Com frequência me esqueço das coisas, de modo que certamente tenho uma demência em estágio preliminar; de vez em quando como muito, então provavelmente tenho a síndrome do comedor compulsivo; e, como quando minha mulher morreu a tristeza durou mais de uma semana e ainda me dói, devo ter caído em uma depressão. É absurdo. Criamos um sistema de diagnóstico que transforma problemas cotidianos e normais da vida em transtornos mentais.
P. Com a colaboração da indústria farmacêutica...
R. É óbvio. Graças àqueles que lhes permitiram fazer publicidade de seus produtos, os laboratórios estão enganando o público, fazendo acreditar que os problemas se resolvem com comprimidos. Mas não é assim. Os fármacos são necessários e muito úteis em transtornos mentais severos e persistentes, que provocam uma grande incapacidade. Mas não ajudam nos problemas cotidianos, pelo contrário: o excesso de medicação causa mais danos que benefícios. Não existe tratamento mágico contra o mal-estar.

Confira a entrevista na íntegra aqui!

Fernanda Pimentel é psicanalista, tem mestrado em Psicanálise pela UERJ  e pesquisa sobre a psicanálise na atualidade e a clínica contemporânea.
 Atende em consultório em Niterói e Copacabana.
http://fernandapimentel.com.br

2 de outubro de 2014

Roudinesco lança nova biografia de Freud

Nova biografia de Freud, escrita pela historiadora Elisabeth Roudinesco, é lançada no Brasil e a autora vem ao Rio para conferência na UERJ!O encontro acontece no dia 6 de outubro, as 17 ha, no Instituto de Psicologia.

Veja a entrevista de Roudinesco para o jornal O Globo


"PARIS - A vida e a obra de Sigmund Freud (1856-1939), o criador da psicanálise, foram objetos de uma enormidade de estudos. Mais uma biografia, hoje, do célebre autor de “Interpretação dos sonhos” e “Totem e tabu”? Para a historiadora da psicanálise Elisabeth Roudinesco, a escrita de seu “Sigmund Freud — dans son temps et dans le nôtre” (Sigmund Freud — em seu tempo e no nosso) foi uma “imposição”. Com acesso aos novos arquivos abertos pela Biblioteca do Congresso de Washington, nos Estados Unidos, a autora francesa mergulhou na vida e obra do biografado com a intenção de mostrar que Freud é um produto de seu tempo e, ao mesmo tempo, revelar verdades sobre as “lendas negras e douradas” edificadas sobre o personagem. O livro foi lançado este mês na França, pela editora Seuil, e tem publicação prevista no Brasil para 2015, pela Zahar.
Crítica severa de uma psicanálise a-histórica, Roudinesco condena a percepção da obra de Freud isolada do contexto de sua época, estudada como um corpus clínico à parte do mundo em que foi elaborada. Somado a isso os repetidos ataques protagonizados nos últimos 30 anos pelos “antifreudianos radicais”, hoje não se sabe mais quem é Freud, sustenta a autora em entrevista ao GLOBO em sua casa, em Paris.
Desde a primeira biografia de Freud, de autoria de Fritz Wittels, em 1924, passando pelos três volumes de “Vida e obra de Sigmund Freud”, de Ernest Jones, publicados entre 1953 e 1957 (lançados no Brasil pela Zahar), uma miríade de teses e ensaios foi produzida nos mais variados idiomas, entre os quais o título de referência “Freud: uma vida para o nosso tempo”, de Peter Gay, de 1988 (Companhia das Letras). O minucioso trabalho de 592 páginas de Roudinesco é reivindicado como a primeira biografia francesa do personagem, com uma nova abordagem e distanciamento de um Freud definido como um “conservador rebelde” e criador de uma “revolução simbólica” em um movimento que se perpetua.
Elisabeth Roudinesco será a principal convidada da “IX Jornada Bianual do Contemporâneo”, promovida pelo Instituto de Psicanálise e Transdisciplinaridade, nos próximos dias 3 e 4, em Porto Alegre. No dia 6, estará no Rio para falar sobre “A psicanálise na situação contemporânea”, às 9h, no Instituto de Psicologia da Uerj. O Brasil, para ela, é hoje o “país mais freudiano do mundo”.

Por que Freud e este livro hoje?
A necessidade se fazia sentir ao longo de um certo tempo de renovar a abordagem de Freud. Sou o primeiro autor francês a fazê-lo, e o último de um longa série. E o primeiro a ir aos arquivos e utilizá-los de uma outra forma. É verdade também que o fim de um ciclo de ondas sucessivas de ódio a Freud, de lendas negativas, de livros negros, já faz 25 anos. Se foi muito longe no antifreudianismo, e se chegou a um ponto em que a opinião pública já estava farta de que se tratasse Freud de nazista, de incestuoso, de canalha. Era preciso restabelecer um pouco de verdade. Eu me dediquei a isto. Os psicanalistas nadam no anacronismo, na interpretação abusiva, porque para eles o contexto histórico não existe. Quis mostrar bem que Freud nasceu num mundo no qual não havia eletricidade, em que a promiscuidade de membros de uma mesma não era a mesma de hoje. Quando ele conta sua vida cotidiana, seja na “Interpretação dos sonhos” ou em outros escritos, é um dia a dia diferente de hoje. Freud foi criado numa família grande, com muitos empregados, sem água corrente. Ele vive nesta promiscuidade em que pode realmente elaborar a teoria dos substitutos. Quando ele vê suas cinco irmãs, vê sua mãe ou seu pai. Há modelos familiares que estão acabando no momento em que teoriza isto. Tive sempre a preocupação de o imergi-lo em seu contexto histórico, e de mostrar que ele e sua obra são um produto de seu tempo."

Read more: http://oglobo.globo.com/cultura/livros/nova-biografia-de-freud-escrita-pela-historiadora-elisabeth-roudinesco-lancada-na-franca-14057290#ixzz3EzK4g8dJ


Fernanda Pimentel é psicanalista, tem mestrado em Psicanálise pela UERJ  e pesquisa sobre a psicanálise na atualidade e a clínica contemporânea.
 Atende em consultório em Niterói e Copacabana.
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25 de setembro de 2014

Livros de Psicologia e Psicanálise indicados ao Prêmio Jabuti

Confira a lista dos indicados ao 56º Prêmio Jabuti de literatura na categoria Psicologia e Psicanálise.

http://premiojabuti.com.br/resultados/psicologia-e-psicanalise/


Título: O avesso do imaginário  – Autor: TANIA RIVERA – Editora: Cosac & Naify Edições
Título: Antígona e a ética trágica da psicanálise – Autor: Ingrid Vorsatz – Editora: Zahar Editora
Título: “Onde tudo acontece – Cultura e psicanálise no século XXI” [editora Civilização Brasileira] – Autor: Giovanna Bartucci – Editora:Editora José Olympio
Título: Processos de Alcoolização Indígena no Brasil: perspectivas plurais – Autor: Maximiliano Loiola Ponte de Souza – Editora: Editora Fiocruz
Título: Psicanálise_ciência e discurso – Autor: Tania Coelho dos Santos e Rosa Guedes Lopes – Editora: Rosa Guedes Lopes
Título: As homossexualidades na psicanálise: na história de sua despatologização – Autor: Antonio Quinet e Marco Antonio Coutinho Jorge – Editora: Segmento Farma.
Título: Semiótica Psicanalítica – clínica da cultura – Autor: Lucia Santaella e Fani Hisgail – Editora: Editora Iluminuras
Título: Do amor louco e outros amores – Autor: Ricardo Goldenberg – Editora: Editora Instituto Langage
Título: Vivendo esse mundo digital – Autor: Cristiano Nabuco Abreu; Evelyn Eisenstein; Susana Graciela Bruno Estefenon – Editora:Grupo A
Título: Epistemologia e método na obra de C. G. Jung – Autor: Eloisa M. D. Penna – Editora: Educ – Editora da PUC-SP

Fernanda Pimentel é psicanalista, tem mestrado em Psicanálise pela UERJ  e pesquisa sobre a psicanálise na atualidade e a clínica contemporânea.
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29 de agosto de 2014

E se Freud tivesse atendido o "Pequeno Hitler"?

De acordo com historiadores da Psicanálise, Sigmund Freud teria sido consultado pelo médico da família Hitler, Dr. Ernest Bloch, sobre a instabilidade, condutas inapropriadas e terríveis pesadelos do pequeno Adolf, então com 6 anos. 
A recomendação foi "internação e tratamento" em uma instituição para crianças em Viena. Contudo, temendo que a equipe médica descobrisse os maus tratos sofridos pelo menino, o pai não seguiu a recomendação médica.


                                                                       Pequeno Hitler

Será que se o pequeno führer tivesse recebido o tratamento adequado, a história da humanidade poderia ter sido diferente? A Psicanálise poderia mudar o destino traçado pelo pai tirano?

E se Freud tivesse atendido Hitler? Teríamos acesso ao caso do "Pequeno Adolf", publicado em alguns dos 24 volumes de sua obra, como temos do "Pequeno Hans"? 





Veja a matéria de Enfoques:


La pesadilla de Hitler

Según un estudio reciente, en 1895 Sigmund Freud habría recomendado que el futuro Führer, entonces de años, fuera internado en un instituto de salud mental para ser tratado por su conducta patológica.
Mostruos y abismos invadían cada noche los sueños del pequeño Adolf
Un muchachito austríaco de seis años y gesto desafiante, el mentón elevado y la mirada firme, las piernas abiertas, los brazos cruzados, algo diferente del resto de sus compañeros de colegio, cambió con el tiempo la historia de Europa.
Hijo de Alois, un funcionario de aduana, y de Klara, una sufrida ama de casa, en 1895 Adolf Hitler no representaba nada, para el poder de Guillermo II en Alemania ni para el de Francisco José I, monarca del imperio austrohúngaro. Después de todo, sólo se trataba de un pequeño escolar que suficientes problemas ya tenía en su casa como para preocupar a tan importantes personajes que en aquellos días continuaban decidiendo el destino de gran parte del mundo, ya que sus guerras y reconciliaciones, sus tratados y sus ambiciones tenían un impacto profundo más allá de las fronteras, hasta ultramar.
Una reciente investigación realizada en Londres por el escritor de televisión Laurence Marks, que tuvo la colaboración de John Forrester, estudioso de Sigmund Freud y su obra, indica que el padre del psicoanálisis recomendó en 1895 que el pequeño Adolf fuese internado a los seis años en un instituto de salud mental para niños de Viena...

Conteúdo completo aqui

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4 de agosto de 2014

100 anos de "Introdução ao Narcisismo"

Era 'selfie' mantém atualidade de livro centenário de Freud sobre narcisismo

'Introdução ao narcisismo' forjou base para reformular teoria psicanalítica. Psicanalista identificou pontos positivos entre os narcisistas.




Na época em que o selfie e as redes sociais estão em alta, o livro ‘Introdução ao narcisismo’, um dos textos mais importantes de Sigmund Freud, completa 100 anos e se mantém atual. Na obra, o pai da psicanálise cunhou conceitos que serviram de base para a reformulação de toda a teoria psicanalítica. Associado a algo estritamente negativo, o narcisismo foi valorizado. “Sem uma pequena dose de narcisismo, você não sai nem de casa”, destaca o comentarista de comportamento do Estúdio i, o psicanalista Felipe Pena.
Entre os pontos positivos do narcisismo estão a capacidade de qualificar as próprias ambições e aspirações e a normatização dos ideais. “Você consegue entender o que é ou não factível”, diz Pena. Por outro lado, o narcisista pode ser incapaz de relacionar com os outros, chegando a depreciá-los.
O psicanalista diz que é possível identificar os narcisistas pelo sentimento de vazio e depressão que sentem ao não conseguir ter uma vida relacional. “É preciso separar o egocêntrico do egocentrado. O egocêntrico é o que não valoriza os outros. O egocentrado é aquele que valoriza a si próprio”, explica o comentarista.
Fernanda Pimentel é psicanalista, tem mestrado em Psicanálise pela UERJ  e pesquisa sobre a psicanálise na atualidade e a clínica contemporânea.
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2 de julho de 2014

Rede social, modernidade e relacionamentos


´A máscara que usamos no Facebook é a mesma que usamos na vida´, diz Calligaris


Em palestra no Info Trends, o psicanalista Contardo Calligaris fala sobre modernidade, felicidade e a influência da internet e redes sociais nos relacionamentos interpessoais.
Fonte: Info



O psicanalista Contardo Calligaris afirmou, em palestra no InfoTrends, que não acredita que as mídias sociais tenham inventado um novo tipo de relação social ou mesmo a subjetividade nos relacionamentos.
Para Calligaris, as novas tecnologias ainda precisam produzir mudanças objetivas na sociedade para marcarem um novo tipo de relação. “O Facebook facilita a maneira de se relacionar, mas que já era a maneira de ser própria da modernidade ocidental desde o início do século 20”, afirmou.
O psicanalista acrescenta que as críticas às relações virtuais são muito questionáveis, pois mesmo os relacionamentos amorosos ou conversas em uma mesa de bar sempre foram virtuais.  “As pessoas não se apaixonam por pessoas reais, desejamos uma fantasia criada por nós mesmos. Aproveitamos a presença do outro para tirar proveito dessa fantasia”, explica. “O amor sempre foi um baile de máscaras e quando essas máscaras caem nós estranhamos o resultado”.
Segundo Calligaris, o Facebook e as redes sociais instituíram um tipo de comportamento típico das sociedades narcisistas, uma maneira de se relacionar na qual a pessoa só existe sob o olhar dos outros. “No passado éramos a herança de nossas origens e só a partir do século 19 a questão de saber quem somos depende do olhar dos outros: os outros veem em mim quem eu sou”, disse. “Com isso ganhamos mais liberdade, deixamos de ser escravos do que foram nossos antepassados”, lembrou.
Para o psicanalista, no entanto, essa “liberdade” tornou-se um novo tipo de escravidão. “As pessoas passaram a demonstrar uma enorme necessidade de serem notadas e buscam sempre a aprovação do outro”, disse. Segundo Calligaris, o Facebook expressa muito bem essa característica da sociedade atual. “Não devemos ser nostálgicos e imaginar uma sociedade diferente.”
O psicanalista comparou as redes sociais com a imagem da perfeição. “É o mundo da margarina”, diz. Para Calligaris, as pessoas no Facebook têm uma enorme necessidade de demonstrar que são felizes. “Assim se mostram também como vencedores. Basta ver as fotos. É difícil ver alguém que não está sorrindo”
De acordo com Calligaris, essa ideia de felicidade é muito recente na história. Uma pesquisa de 2011 diz que existe uma relação clara entre valorizar e conseguir. Se você valoriza a possibilidade de ser dono de sua moradia, este é o primeiro passo para conseguir. Mas existe uma exceção paradoxal.
“Quanto mais você valoriza a felicidade, mais infeliz você vai ser. Aparentemente a felicidade é o único caso em que a valorização não produz a facilitação”, explicou. “A ideia de manter a máscara da felicidade não veio com o Facebook, mas certamente as mídias sociais herdaram essa tradição.”
No entendimento do psicanalista, a procura instantânea pela felicidade não existe e não passa de uma ideia de marketing que começou no século 20. Ele acredita que as pessoas desejam ter uma vida interessante, com experiências intensas e mesmo desagradáveis. “A ideia de que a felicidade é programada, aos meus olhos, é uma ideia fajuta.”
“Se por um lado há um esforço para parecer sorridente, quando começamos a dialogar com alguém e achamos essa relação interessante, então paramos de tentar manter essa máscara de felicidade, pois temos a impressão de que alguma coisa poderá ser trocada com aquela pessoa”,diz.
“Os críticos dizem assim: vocês ficam em casa postando enquanto poderiam sair e encontrar pessoas reais. Mas isso realmente acontece sempre? Toda vez que você sai rola uma integração com as pessoas no bar? Isso não existe. Não nos apaixonamos ou conhecemos pessoas interessantes todo dia. É uma hipervalorização desta ideia”, critica.
Para o psicanalista, as relações já eram assim antes do computador e nada mudou após isso. “Se você tem dois bons amigos, então você é uma pessoa bastante sortuda”, afirma. Segundo Calligaris, nós somos quem nós conseguimos ser aos olhos dos outros e, enquanto trabalhamos em nossas páginas de perfil, significa que também trabalhamos nossa composição como pessoa.
“Não tem sentido viver na sociedade contemporânea sem pensar quem você é para os outros. O Facebook é um efeito disso. A competição às vezes custa um tempo e pode ser terapêutica”.

Fernanda Pimentel é psicanalista, tem mestrado em Psicanálise pela UERJ  e pesquisa sobre a psicanálise na atualidade e a clínica contemporânea.
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26 de junho de 2014

Entrevista com Jorge Forbes

“AS EMPRESAS PRECISAM IR PARA O DIVÔ

Em entrevista para a Época Negócios, o PSIQUIATRA E PSICANALISTA Jorge Forbes fala sobre AS PECULIARIDADES DE UMA ÉPOCA, NA QUAL AS HIERARQUIAS RÍGIDAS FAZEM POUCO SENTIDO, sobre violência e sobre novas formas de laço social.

Imperdível! 

"Como gerir equipes, reter talentos ou se comunicar com os consumidores em um mundo sem bússolas, em constante mutação? Lidar com dilemas desse quilate, óbvio, não é uma tarefa simples. Mas algumas pistas para a solução de problemas desse tipo podem ser encontradas em um lugar insólito: em um divã, por exemplo. O psiquiatra e psicanalista Jorge Forbes, um dos introdutores das teorias de Jacques Lacan no Brasil, está convicto de que as empresas precisam fazer análise. Isso para que entendam as peculiaridades de uma época, na qual as hierarquias rígidas e verticalizadas fazem pouco — ou nenhum — sentido. “As relações humanas, sob o ponto de vista psicanalítico, não são mais intermediadas por um padrão estável”, diz Forbes. “E isso torna todos mais frágeis. Por isso, as pessoas estão cada vez mais sujeitas a passar por verdadeiros curtos-circuitos”. Daí, observa o médico, a explicação para a ocorrência de tumultos variados, o que inclui desde manifestações populares ao aumento de crimes provocados por reações intempestivas.
O senhor tem observado a ocorrência frequente de crimes hediondos, envolvendo pessoas comuns. O que está acontecendo em nossa sociedade?
Temos de constatar algo óbvio. Um tipo específico de crime, até recentemente raro, está se tornando cada vez mais comum, quase habitual. Presenciamos uma verdadeira epidemia desse gênero de crimes, marcado por linchamentos, pessoas picadas (zeladores e maridos), além de pais, mães e filhos assassinados uns pelos outros. Não estou dizendo que vivemos em uma época em que acontecem mais crimes. Não é isso. Mas é inegável que há um aumento de um problema específico. Casos que antes eram raros, hoje se tornaram mais comuns.

O que distingue esses crimes?
Todos são hediondos e foram praticados por pessoas comuns, sem antecedentes criminais, sem ficha corrida.

Por isso, surpreendem?
Exato. São inusitados, no sentido específico da palavra — ou seja, parecem fora de lugar. As pessoas que os cometeram são muito semelhantes àquelas que nunca fizeram nada parecido. Esse tipo de situação coloca todos em alerta. Deixa as pessoas angustiadas. Elas dizem: “Me explique qual a diferença entre mim e esses criminosos, porque eu quero ter certeza de que nunca faria algo parecido”. O ser humano está se defrontando com um aspecto assustador da sua condição: somos bichos perigosos. E a nossa época favorece essa percepção."

Confira toda a entrevista aqui.


Fernanda Pimentel é psicanalista, tem mestrado em Psicanálise pela UERJ  e pesquisa sobre a psicanálise na atualidade e a clínica contemporânea.
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23 de maio de 2014

Eu, Hilda Hilst: 15 abortos, 150 cães, 15 mil seguidores no Facebook

Que grandes pensadores, escritores e cientistas se tornaram fenômenos pop a partir do Facebook, não é novidade para ninguém. Freud Sagaz, Clarice Lispector, (1.406.571 pessoas curtiram esse tópico!!!) Sagan Irônico, Caio Fernando Abreu, Virginia Woolf... Com Hilda Hilst Não seria diferente!
Veja a matéria em Obvios.

"Hilda Hilst: 15 abortos, 150 cães, 15 mil seguidores no Facebook

Filha de pai esquizofrênico, um dos maiores medos de Hilda Hilst era ficar louca. Se soubesse que, dez anos depois de morta, sua página no Facebook teria mais de 15 mil seguidores, e que sua obra, relançada, venderia mais de 1.500 exemplares em apenas duas semanas, por certo a poetisa pensaria que finalmente enlouqueceu.





Fernando Pessoa previu em um dos seus mapas astrais que ficaria famoso somente após 50 anos de sua morte. Em língua portuguesa ele teve apenas um livro publicado em vida: “Mensagem”, de 1934. Pessoa morreria no ano seguinte e só em 1985, por ocasião dos festejos pelo cinquentenário de sua morte, o poeta alcançaria a glória merecida (graças também à edição de seus poemas em inglês e à publicação do “Livro do desassossego”, diga-se de passagem, um texto em prosa).
Hilda Hilst, embora tenha feito experimentos extra-sensoriais exóticos - como tentativa de contato com o além via ondas de rádio - não previu nada, mas aconteceu. Após 10 anos de sua morte, a escritora brasileira é celebrada (e consumida) como nunca fora em vida - o que não quer dizer que não tenha alcançado reconhecimento enquanto ainda era viva.
Se estivesse entre nós, certamente Hilda se surpreenderia com os números que atualmente são associados ao seu nome: 15 mil seguidores numa página no Facebook, 1.500 livros vendidos através da loja virtual Obscena Lucidez (de Daniel Fuentes, herdeiro de sua obra) em menos de duas semanas e 23 livros relançados pela Globo Livros neste ano.
Há quem diga que sua poesia é mediana, porém, ninguém contesta o seu magnetismo pessoal, ousadia e audácia."

Veja o post completo aqui:  http://lounge.obviousmag.org/monica_montone/2014/05/superlativa-hilda-hilst-15-abortos-150-caes-15-mil-seguidores-no-facebook.html


E também: http://kultme.com.br/kt/2014/02/10/hilda-hilst-e-o-espaco-de-pensar-o-humano/



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11 de abril de 2014

Remédios contra o amor

"Tão bom morrer de amor! e continuar vivendo..." A célebre frase de Mario Quintana que sempre inspirou os mais românticos não faz mais sentido na era da supermedicalização onde qualquer sofrimento merece ser tratado. 

Reduzindo o amor à reações hormonais, equipe de cientistas defende o tratamento farmacológico para curar esse sentimento e evitar sofrimento e desilusões.  Mas o que será que vai acontecer se tomarmos um comprimido a cada vez que as nossas relações não estiverem dando certo?   


O amor pode ter cura

Cientistas propõem o uso de remédios e de outras intervenções para acabar com o sentimento quando ele traz mais sofrimento do que alegria


É difícil encontrar alguém que nunca sofreu por amor. E que no auge de sua dor não tenha imaginado como seria ótimo se existisse uma pílula, algo que pudesse ser comprado logo ali, na farmácia, para acabar com o sofrimento. Na opinião de um respeitado time de cientistas, esses remédios existem. Alguns já estão disponíveis, outros em estudo. Juntos, eles formam um arsenal capaz de curar amor – e devem começar a ser usados sempre que necessário. A proposta está sendo feita por pesquisadores da Universidade de Oxford, na Inglaterra, uma das mais renomadas do mundo. Por seu teor polêmico, a proposição iniciou um grande debate entre os cientistas sobre a oportunidade de se recorrer a recursos para encerrar um amor – seria mesmo adequado tratar o sentimento como se lida com uma gripe, uma gastrite? – e as consequências éticas que podem advir do uso do que os estudiosos ingleses estão chamando de biotecnologia antiamor.


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No olhar do grupo de Oxford, porém, trata-se de lidar com o tema sob uma perspectiva diferente da convencional. Existe o amor de Platão, de Shakespeare. Fala-se aqui do ideal, do sentimento arrebatador, que nasce sem muita explicação e gera histórias inesquecíveis. E existe o amor entendido pela ciência. Nesse caso, não há espaço para romantismo. A emoção seria produto de respostas fisiológicas desencadeadas no cérebro a partir de um estímulo. Sua geração faria parte do arcabouço de emoções que a espécie humana desenvolveu ao longo de sua evolução com o objetivo de garantir sua sobrevivência. O medo, por exemplo, nos ajudou a ter reações de fuga diante de predadores. O amor, por sua vez, foi o sentimento que garantiu a continuidade da reprodução da espécie. E hoje, defendem os cientistas, é possível interferir nas etapas desse processo com a finalidade de interrompê-lo. “A neurociência está nos apresentando um entendimento novo do amor”, disse à ISTOÉ o pesquisador Brian Earp, de Oxford, coordenador do grupo que estuda os tratamentos para o sentimento. “Portanto, se pensarmos que ele é algo que emerge da química cerebral, começa a fazer sentido falar em cura.”

Veja a matéria na íntegra aqui 

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9 de abril de 2014

Evento gratuito no Espaço Revista Cult, em São Paulo

O Legado de Lacan

 

  • Jacques Lacan nasceu em 13 de Abril de 1901. Depois de 113 anos o legado de seu ensino permanece vivo na cultura. Os efeitos da renovação clínica e teórica que ele introduziu na psicanálise e na crítica social ultrapassaram em muito o cenário francês e europeu. Hoje temos um Lacan no Brasil. Seria ele mais um caso de ideias e práticas fora de lugar? Mais um capítulo de nosso desejo de província? Ou já podemos falar de um Lacan à brasileira.
    Para marcar a data e avaliar o impacto de Lacan em São Paulo convidamos psicanalistas a trazer um breve testemunho de como seu estilo marcou o percurso formativo de cada um e "em que pé estamos" com Lacan.
    Dia 16/4
    Às 20h
    Entrada Gratuita, inscrições pelo email atendimento@espacorevistacult.com.br
    As senhas serão distribuídas uma hora antes do início do evento
    Com Christian Dunker (Psicanalista, Professor Livre Docente Instituto de Psicologia da USP), Ricardo Goldenberg (psicanalista), Maria Lívia Tourinho Moretto(professora doutora do Departamento de Psicologia Clínica do Instituto de Psicologia da USP, Orientadora do Programa de Pós-Graduação em Psicologia Clínica do IPUSP, psicanalista, membro do Fórum do Campo Lacaniano de São Paulo), Nina Virginia de Araujo Leite (membro da Association de Psychanalyse Encore, professora do Instituto de Estudos da Linguagem /UNICAMP), Miriam Debieux Rosa (professora doutora do IP - USP onde coordena o Laboratório Psicanálise e Sociedade e o projeto de Extensão Migração e Cultura. Professora Titular da PUC- SP, Pós-graduação de Psicologia Social onde coordena o Núcleo de estudos Psicanálise e política) e Dominique Fingermann
    Espaço Revista CULT
    Rua Inácio Pereira da Rocha, 400 - Vila Madalena/SP
    Tel. 11 30322800
  • fonte: http://espacorevistacult.com.br/evento-descricao.php?evento=93

Fernanda Pimentel é psicanalista, tem mestrado em Psicanálise pela UERJ  e pesquisa sobre a psicanálise na atualidade e a clínica contemporânea.
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18 de março de 2014

Sobre as crianças loucas

Texto da jornalista Eliane Brum, publicado em El País, sobre a realidade das crianças internadas em instituições psiquiátricas no Brasil. 


Como se fabricam crianças loucas

Os manicômios não são passado, são presente. Uma pesquisa realizada no hospital psiquiátrico Pinel, em São Paulo, mostra que, mesmo depois das novas diretrizes da política de saúde mental no Brasil, crianças e adolescentes continuaram a ser trancados por longos períodos, muitas vezes sem diagnóstico que justificasse a internação, a mando da Justiça. Conheça a história de Raquel: 1807 dias de confinamento. E de José: 1271 dias de segregação. Ambos tiveram sua loucura fabricada na primeira década deste século

"Em uma noite de novembro de 2007, a psicóloga Flávia Blikstein escutou de uma menina duas perguntas. E descobriu que não tinha respostas. Flávia trabalhava num Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) infantil, em São Paulo, e encontrava-se na ambulância para levar a garota para sua primeira internação psiquiátrica. Maria, como aqui será chamada, tinha 14 anos. Era negra, alta e magra. Falava pouco, frases curtas. Gostava de brincar de boneca e de desenhar. Às vezes pintava as unhas, arrumava o cabelo, anunciando a adolescência. Maria se molhava o tempo todo, em pequenos rituais. Abria a torneira, fazia uma conchinha com as mãos e molhava os pés, as pernas, os braços. Fazia isso em qualquer lugar, causando vergonha à mãe. Talvez Maria estivesse esculpindo com a água os limites do próprio corpo. Quando fez a primeira pergunta à Flávia, ela ainda tinha as pontas dos dedos úmidas, e o seu olhar também era molhado:
- Por que eu vou ficar aqui?
Flávia descobriu que não tinha resposta.
Maria fez então a segunda pergunta:
- Quem tá aí? Quem vai dormir no quarto comigo?
(...)
“Medievais”, “desumanos” e “criminosos”. Essas são algumas das palavras usadas para definir os hospícios desde que a luta antimanicomial se intensificou a partir do final dos anos 1970 e conquistou avanços significativos nesse século. A pesquisa mostra, porém, que mesmo instituições e profissionais que tentam fazer diferente são seguidamente vencidos pelas engrenagens e pela escassez de serviços públicos de base. Na prática, ainda hoje, é de manicômio e de vida manicomial que se trata em uma parte significativa dos casos, uma realidade só possível pelo descaso quase absoluto da sociedade com o destino dessas crianças, em geral filhas de famílias pobres. Ao fazer o arquivo morto falar, Flávia constrói respostas que precisam ser escutadas se quisermos, de fato, estancar o crime de fabricar crianças loucas – e, muitas vezes, também o de conseguir enlouquecê-las.
Raquel nasceu em 1994. A mãe estava presa por tráfico de drogas, não porque era chefe de uma organização criminosa, mas porque vendia uma pequena quantidade para sustentar seu próprio vício. Esse destino é comum nos presídios do país, é também gerador de órfãos de mães vivas. Pobre demais para dar conta dela, a avó colocou Raquel num abrigo aos cinco anos. A menina é de imediato descrita como “agressiva”. E, por esse motivo, é afastada das outras crianças. Passa a morar com o que se chama de “mãe social”, isolada numa casa nos fundos do abrigo. A escolha, como mostra Flávia, evidencia que, desde sempre, a resposta à agressividade de Raquel é a exclusão. Obviamente, também não deu certo. De abrigo em abrigo, Raquel virou aquela que “não dava certo” em abrigo nenhum.
Talvez valesse a pena perguntar se a agressividade, ao se olhar para o contexto e as circunstâncias, não era o principal traço de sanidade de Raquel. Mas o direito à história é o primeiro a ser arrancado das “crianças loucas”. Ela já tinha quase tantos rótulos quanto anos de vida: filha de presidiária, abandonada, agressiva, não dá certo... Raquel só era vista por estigmas e fragmentos."
Confira o artigo na íntegra aqui
Fernanda Pimentel é psicanalista, tem mestrado em Psicanálise pela UERJ  e pesquisa sobre a psicanálise na atualidade e a clínica contemporânea.
 Atende em consultório em Niterói e Copacabana.

26 de fevereiro de 2014

XX Encontro Brasileiro do Campo Freudiano.

O ano sempre começa com a divulgação de grandes eventos...
Já tinha comentado aqui sobre o VI Congresso Internacional de Psicopatologia Fundamental, que acontecerá de 4 a 6 de setembro, em Belo Horizonte, e agora é a vez XX Encontro Brasileiro do Campo Freudiano, que também será em BH, nos dias 21, 22 e 23 de novembro.




"O Encontro Brasileiro do Campo Freudiano é sempre uma renovação da transferência de trabalho que une os mais diferentes pontos do Brasil em torno da psicanálise de orientação lacaniana. A escolha dos temas é sempre focada na lâmina cortante da psicanálise pura e seus efeitos de transmissão e formação da atual e das futuras gerações de psicanalistas. Trauma nos corpos, violência nas cidades é o tema proposto para essa edição. Belo Horizonte nos acolhe para estabelecer um grande debate sobre o tema, sem perder de vista a especificidade de trazê-lo para a Escola Brasileira de Psicanálise. Em um mundo onde os significantes Trauma e Violência estão tão cotidianamente ligados às notícias da última hora, propomos acrescentar dois significantes muito caros à Lacan: Angústia e Segregação. Assim, trauma e violência são dois modos de abordar a inquietante alteridade que nos assombra - e que não cessa de fazer sua irrupção - tanto em nossa relação com o corpo, no caso da angústia, quanto na relação com o Outro, no caso da segregação. Fica então o desafio: onde localizar o mal?