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4 de julho de 2013

XXII Jornadas Clínicas da EBP-Rio - Nós e o corpo: enlaces e desenlaces na psicanálise hoje



Argumento
Ao falarmos do Corpo na Psicanálise uma pergunta se impõe: que corpo é esse que a psicanálise aborda? O corpo tende a ser tomado em nosso campo via oposição entre corpo imaginário (do espelho) e o corpo simbólico (que porta as mensagens histéricas, por exemplo). Todavia, o ultimíssimo ensino de Lacan nos faz pensar no corpo real. Um corpo que porta um gozo repetitivo e insensato. O corpo da iteração do Um, da repetição da letra de gozo. Por aí pensamos que abordar o corpo implica em enodar essas perspectivas. Não poderíamos deixar de considerar como o corpo se apresenta na clínica hoje: 'bombado', tatuado, "sarado", anorexico, compulsivo, medicalizado, mutilado, etc... e especialmente mudo, num mundo pleno de tagarelice. Nossa questão é como abordar esses corpos com nosso instrumento de palavras. Sem cairmos no empuxo ao esvaziamento simbólico da época, como podemos afetar esse corpo de gozo? Outras linguagens como a arte, a filosofia, a ciência e a educação, têm também seus embates e suas formas de expressar as questões postas pelo corpo. Seus respectivos modos de tratar aspectos como a beleza, a potencia, a fragilidade e a finitude, e suas possíveis interseções com a psicanálise são temas que queremos tratar. Para isso convidamos a todos os interessados a participarem das XXII Jornadas Clínicas da EBP-Rio e do ICP-RJ, a se realizarem nos dias 25 e 26 de outubro de 2013 na Casa de Espanha.

Informações Gerais
Data: 25 e 26 de outubro de 2013
Local: Casa de Espanha, Rua Maria Eugênia, 300 - Humaitá.
Envio de trabalhos: até o dia 08 de setembro de 2013. O envio será feito pelo site das XXII Jornadas a partir do mês de agosto. Limite de caracteres (com espaço): 6000.
Inscrições e informações: na secretaria da EBP-Rio e do ICP-RJ, na Rua Capistrano de Abreu, 14 – Botafogo. Tel.: 2539 0960.

X Simpósio do Programa de Pós-Graduação em Psicanálise da UERJ - "Psicanálise e saúde: entre o Estado e o sujeito"

Veja a convocatória



"Psicanálise e saúde: entre o Estado e o sujeito" 
O tema do simpósio visa um campo que nos convoca, no presente, em razão de embates clínicos e políticos que não cessam de se acentuar. No campo das práticas e políticas públicas de saúde, que historicamente suportou a interlocução com a Psicanálise, deparamo-nos hoje - por uma série de circunstâncias ideológicas, políticas e econômicas - com a ameaça de um crescente alheamento em face de determinados fatores que se apresentam. Destes, destacamos a imposição de protocolos universalizantes que constrangem a atuação de cada um, o recrudescimento de iniciativas normatizadoras, os ideais de prevenção e securitários e a mística da eficácia e da gestão que se sobrepõe à ética e à política. Tais circunstâncias têm por pano de fundo um momento crucial do capitalismo, como se observa com a imposição à sociedade do pagamento do saldo deixado pela implementação de uma lógica financeira que rechaça sua própria impossibilidade. A crise que o capital gestou, no lugar de aventar limites a tal lógica, exige sacrifícios à sociedade no que se refere a conquistas arduamente consolidadas na esfera pública. A interrogação que deve ser permanente quanto às possibilidades de a Psicanálise operar no campo da saúde precisa levar em conta, então, a incidência nos discursos que compõem tal campo destes fatores que elencamos. Isto implica interpelar renovadamente as próprias noções que o fundamentam - saúde? público? - e o lugar do Estado. Como norte para este trabalho, o conceito de sujeito é proposto como divisa da Psicanálise, como ponto de sustentação da inserção de outro discurso no debate. As inflexões que se identificam no campo da saúde não deverão implicar, assim, do lado da Psicanálise, nem resignação nem simples rechaço. A fazermos jus à sua tradição, deverá implicar o despertar de um trabalho consequente.


Maiores informações: http://www.cepuerj.uerj.br/desc_eventos.aspx?evento=26

Já enviei uma proposta de mesa redonda junto com Adriana Lipiani e Claudia Henschel de Lima intitulada Toxicomania e Anorexia: manifestações no corpo dos excessos pulsionais.

2 de julho de 2013

"Diga-me o tamanho de seus seios e a brancura de seus dentes..."

Texto publicado no site do VI ENAPOL - VI Encontro Americano de Psicanálise de Orientação Lacaniana e XVIII Encontro Internacional do Campo Freudiano, que nos convoca a pensar a ralação dos sujeitos com seus corpos na atualidade. 

O Encontro, que tem como tema Falar com o Corpo: A crise das normas e a agitação do Real, acontece em novembro em Buenos Aires 

Cosmos cosmética
Jorge Castillo

"O homem intervém sobre seu corpo de forma similar àquela em que os artistas intervêm sobre os objetos cotidianos: o pintam, o cortam, o perfuram, o atravessam, o queimam, lhe acrescentam outros objetos.
Isto é assim em todas as civilizações, desde que o homem é homem, ou seja, desde que existe a linguagem. Não se trata de um fenômeno isolado, mas de um fato de estrutura. Há uma insuficiência da imagem do corpo em responder à pergunta: "Quem sou?". A cosmética pode, então, funcionar como uma espécie de ortopedia para nos reconhecermos no olhar do Outro. Uma ajudinha para a identificação. Para fazer o amor e a guerra. Como uma velhinha que dizia haver começado a pintar os lábios para que não a confundissem com um velhinho.
A cosmética pode também servir para se fazer passar pelo que não se é ou para escapulir sem ser visto. Para enganar o Outro, para causar seu desejo, sua ira ou seu temor. Trata-se de uma satisfação ligada à imagem do corpo que a cosmética pode ajudar a dialetizar, a entrar no jogo significante fazendo signo das marcas nesse corpo.
Na era da biopolítica, entretanto, assistimos a fenômenos nos quais é difícil encontrar os traços da significação. Os desenvolvimentos da cirurgia, a engenharia genética e a química farmacológica produzem novos tipos de intervenções sobre o corpo que é agora a mercadoria privilegiada. Diga-me o tamanho de seus seios, a brancura de seus dentes ou o comprimento de seu cabelo e lhe direi quem você é e quanto vale. Eu o direi...! Ao menos por um instante! Compram-se e vendem-se identificações descartáveis com corpos que se deformam à vontade. No falso discurso do capitalismo a gama sem fim de objetos postiços se oferece como a sutura mágica para a ferida mais profunda.

Fotografia: Helmut Newton 

Mais além dos ideais plásticos do mercado encontramos, também, um uso desaforado desses objetos. Deformações, em alguns casos, monstruosas, que parecem se incluir em um tratamento do gozo que não conta com o falso furo da castração pela qual o Nome-do-Pai dá consistência ao corpo.Afazeres do corpo sobre o corpo, círculo sem fim na qual uma cirurgia convoca outra.
Não existe a opção: divã ou bisturi, entretanto, no que diz respeito à psicanálise, as manipulações químico-cirúrgicas podem tomar o valor de acontecimento de corpo com a condição de que isso se enlace com a língua de cada um. O espaço analítico com seu artifício de palavra posta em transferência vale dizer, a palavra que pode recortar um objeto, restitui ao sujeito um corpo para gozar. É uma chance para fazer da vida uma experiência um pouco mais suportável com um uso inédito e singular da cosmética."