Mesmo depois de muitas conquistas no âmbito profissional e social, uma questão ainda parece ser tabu para as mulheres: a maternidade.
Hoje, diante de tantas possibilidades de escolha, a opção de ter ou não um filho não se mostra tão livre assim... Ainda existe a idéia de que uma mulher só pode ser feliz realizando a maternidade, como se o "instinto materno" fosse universal e presente em todas a mulheres...
Será que ter filhos é garantia de realização? É possível prescindir da maternidade?
O texto que segue, publicado na Mente&Cérebro , fala da maternidade e divulga resultados interessantes de uma pesquisa realizada na Universidade de Michigan.
Filhos? Não, obrigada
A ciência mostrou que o chamado “instinto materno” não é inato e pode
ser vivido de diversos modos. Ainda assim, prevalece uma sutil pressão
social que cobra a maternidade
É raro alguém perguntar o que levou um homem
ou uma mulher a ter filhos. Em contrapartida, é comum escutar: “Não tem
filhos? Por quê?”. E, em geral, o principal alvo das indagações são as
mulheres. Talvez algo como “não tive tempo”, “não sou casada” ou “não
encontrei o homem certo, no momento certo” fossem boas respostas, mas há
algo mais em jogo. É como se – ainda hoje, apesar de todas as
transformações sociais dos últimos anos – continuasse necessário
explicar à sociedade essa escolha (às vezes mais, às vezes menos
consciente). Ao serem questionadas, as mulheres percebem na curiosidade
alheia a pressão e as críticas disfarçadas, como se a opção de não terem
sido mães as fizesse pessoas especialmente egoístas ou fosse sinal de
algum “grande problema” em relação à sua feminilidade.
“Em nossas
pesquisas promovemos a discussão do tema em grupos de mulheres sem
filhos, em diversas cidades italianas, e muitas das participantes
admitiram que se sentiam julgadas, às vezes até severamente, por
parentes ou conhecidos, estigmatizadas como se fossem cidadãs de segunda
categoria”, conta Maria Letizia Tanturri, professora de demografia da
Universidade de Pavia, que participou de um importante projeto de
pesquisa coordenado por várias universidades. “É como se, de certa
forma, a maternidade fosse a garantia de nos tornarmos pessoas melhores,
mais sensíveis”, observa. Ela lembra que, em 2007, uma senadora
democrata da Califórnia, Barbara Boxer, atacou a secretária de Estado
Condoleezza Rice: “Como não tem filhos nem família, a senhora não pagará
nenhum preço pessoal pelo envio de mais 20 mil soldados americanos ao
Iraque”. As palavras podem ser entendidas como uma variante de algo
como: “Quem não tem filhos não pode entender o que só nós, seres humanos
privilegiados pela graça de ter filhos, conseguimos compreender”.
Um
estudo realizado por pesquisadores da Universidade de Michigan com 6
mil mulheres com idade entre 50 e 60 anos revelou que ter ou não ter
filhos não tem efeito relevante no bem-estar psicológico nessa faixa
etária – o que, de certa forma, contradiz a ideia de que é preciso criar
os filhos para ter com quem contar no futuro. “Os aspectos mais
importantes para uma maturidade feliz são a presença de um companheiro e
de um círculo de relações sociais significativas”, salienta a socióloga
Amy Pienta, coautora da pesquisa publicada no periódico científico International Journal of Aging and Human Development.
Assim – e considerando todo o risco, trabalho e preocupação que
significa ter filhos –, seria melhor não tê-los? Depende. O único dado
certo é que hoje existe uma liberdade maior de escolha: é possível ser
mulher de forma plena e prescindir da maternidade.
Artigo de Paola Emilia Cicerone