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29 de novembro de 2012

Jornada de Psicanálise em Recife


Programação:

30/11 - sexta-feira

SALA A

14:00 – Abertura
14:30 – Sílvia Ferreira – Aproximações entre manhês e lalangue 
15:00 – Luiza Bradley – A clínica da criança
15:30 – Adriana Chaves – Análise Terminável e Interminável 
16:00 – Intervalo
16:30 – Mirella Dantas – Criação Feminina
17:00 – Mônica Parreiras – QUERER nem sempre é PODER! Carência Materna → Avareza Paterna
17:30 – Irene Paiva Melo – O mito do Pai
18:00 – Edigleisson Alcântara – O “inalterado” e a alteridade na constituição psíquica de bebês gêmeos

SALA B
14:00 – Abertura
14:30 – André Resende – Psicanálise e Literatura. Ou: como vês eu não me esqueci
15:00 – Dayse Costa – A Invenção da Histérica
15:30 – Isaura França 
16:00 – Intervalo
16:30 – Gertrudes Pastl Montarroyos – Culpa e Angústia
17:00 – Jerzuí Tomaz e Mírian Maranhão – Marcas do humano em A vida como ela é
17:30 – João Villacorta – Se atravessei o fantasma eu não sei, mas que eu vi, eu vi!
18:00 – Rossany Cavalcante – Aproximações para uma História da Psicanálise com Criação em Maceió

01/12 – sábado

SALA A
09:00- Benes Alencar Sales – O Mito e a Psicanálise 
09:30 – Luciane Batista – Procura-se um menino
10:00 – Maria Teodora de Barros Oliveira – Anotações sobre a melancolia 
10:30 – Intervalo11:00 – Mírian Maranhão – O corpo feminino e sua função de fetiche
11:30 – Sônia Coelho – A Angústia em Graciliano Ramos: entre ratos e sururus
12:00 – Mariel Rocha Pereira de Lyra – A escuta do discurso materno diante do desamparo na amamentação do bebê

14:00 – Luiz Carlos de Siqueira Bezerra – Aproximações entre o Outro lacaniano e o outro hegeliano
14:30 – Carlos Santos – Uma Hélade Freudiana
15:00 – Jacques Laberge – Chiste (witz – wit – vite)
15:30 – Rachel Rangel – Vamos falar de Paulinho?
16:00 – Intervalo
16:30 – Pedro Gabriel Bezerra da Fonseca – Alea Jacta Est: a lógica no Ato Psicanalítico
17:00 – Carlos Domingues – Sobre um certo temor sexual masculino
17:30 – Lia da Fonte – Os desatinos do supereu
18:00 – Suzana Cannizarro – Dora, histeria e feminilidade

SALA B
09:00 – Daniely Siqueira - Pulsão Invocante, Constituição Subjetiva e Supereu 
09:30 – Antônio José Bezerra dos Santos – Toxocomania por via oral e algumas observações da Psicanálise
10:00 – Ana Lúcia Falcão – O feminino em Lacan
10:30 – Intervalo
11:00 – Alduísio Moreira de Souza – Para não dizer que não falei de flores – o tempo de florescimento de um ato
11:30 – Roberta Cristina Rodrigues Aymar – “De líquidos que pingam das mesas de mármore da Morgue”.
12:00 - Alyne Barbosa, Daniela Charamba, Joana Bandeira de Melo e Thyeri Bione – Pulsão: reflexões sobre Freud e Lacan

14:00 – Francisco Rafael Barbosa Caselli – Incidências da reprodução assistida no imaginário da procriação 
14:30 – Juliana Falcão Barbosa – Reprodução assistida e ultrapassagem dos limites: considerações a partir do filme Minhas mães e meu pai
15:00 – Charles Elias Lang – Reflexões sobre a paternidade em Minhas mães e meu pai
15:30 – Ana Beatriz 
16:00 – Intervalo
16:30 – Eliane Bryon – Passando pelo chiste: Freud e o humor na análise
17:00 – João Camilo de Melo - "O fazer inútil da melancolia e o seu interminável fuso".
17:30 – Luciana de Andrade – “A aposta de um sujeito dito autista”
18:00 – Natália Laporte – “O olho que não olha: sobre a não instauração do eu no autismo”

27 de novembro de 2012

Grupo de estudos para 2013 - Novas formas de mal-estar: a Psicanálise na atualidade.








As novas formas de mal-estar - anorexias, bulimias, síndromes do pânico, toxicomanias, depressões, entre outros - desafiam a prática clínica psicanalítica com uma organização sintomática cheia de especificidades

A agressividade do próprio sintoma que se evidencia na deterioração e mortificação do corpo e uma defasagem simbólica que aparece na clínica como uma extrema dificuldade de dizer sobre o que se sente, apresentam um terreno árido para o analista trabalhar.

Com o objetivo de articular a teoria psicanalítica e a prática clínica na atualidade, o grupo pretende estudar os efeitos do contemporâneo na subjetividade e sintomatologia atual a partir da leitura de textos freudianos clássicos, apoiados por autores contemporâneos como Nieves Soria Dafunchio, Massimo Recalcati, Fabian Schetjman, Claudio Godoy e outros.







23 de novembro de 2012

Documentário: Muito Além do Peso


Muito se fala sobre o aumento da obesidade infantil e as consequências do excesso de peso na vida adulta. 
Mas pouco se fala da responsabilidade dos pais, da baixa qualidade dos alimentos oferecidos em casa e na escola, da falta de informação das crianças e principalmente dos hábitos nada saudáveis que são, despreocupadamente e inconsequentemente, passados para as crianças no dia a dia.


Este documentário discute a alimentação infantil, para além das questões do peso, mostrando que o ponteiro da balança que indica o ganho de peso é apenas a ponta do ice berg de um problema muito maior.
Dirigido pela paulistana Estela Renner, a fita percorre o Brasil do Rio Grande do Sul ao Pará, das metrópoles às áreas rurais com um propósito: mostrar como a garotada se alimenta mal e só quer saber de comida industrializada. Muito elucidativo, o filme traz ainda depoimentos de pediatras e endocrinologistas e declarações inusitadas dos pequenos entrevistados. 

25 de outubro de 2012

Da geração Coca-Cola à geração Ritalina...

Ótima matéria na Revista Trip sobre o diagnóstico de TDAH. O artigo questiona o tratamento, a causa, a utilização do transtorno como justificativa de baixo desempenho escolar e sobretudo, da impossibilidade dos pais lidarem com seus filhos.

GERAÇÃO RITALINA

Falta de atenção e foco virou doença. O nome? Transtorno de déficit de atenção com hiperatividade. A suposta solução? O remédio tarja preta, do qual o Brasil é o segundo maior consumidor do mundo. Psiquiatras culpam o cérebro; outros, a sociedade. Nosso repórter ouviu os dois lados e passou uma semana sob o efeito da “droga da obediência”



“Bom, é o seguinte: você tem sinais de déficit de atenção e de ansiedade. Vou te prescrever um medicamento”, sentenciou o psiquiatra. O gravador escondido no bolso marcava exatos 23 min de consulta – tempo suficiente para ele me diagnosticar com TDAH (Transtorno de Déficit de Atenção com Hiperatividade) e escorregar pela mesa uma receita para três caixas de Ritalina. Não precisei mentir nem exagerar nada. Em resumo, relatei que vez ou outra tenho dificuldade para me concentrar em coisas que não me interessam, que prazos podem ser um problema e que faz tempo que não leio um livro até o fim. O que foi? Se identificou com alguma coisa?
Não se preocupe. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS) e a Associação Americana de Psiquiatria, cerca de 4% dos adultos e de 5% a 8 % de crianças e adolescentes de todo o mundo sofrem de TDAH, “uma síndrome caracterizada por desatenção, hiperatividade e impulsividade”, atigamente chamada apenas de DDA (déficit de atenção). Em uma sala de aula com 40 crianças, por exemplo, estima-se que pelo menos dois sejam portadores. E cada vez mais o destino delas é o mesmo que o meu: o consultório de um psiquiatra.
Grande parte da psiquiatria vê o TDAH como uma doença neurobiológica, causada por um desequilíbrio químico no cérebro, tal qual a depressão. O diagnóstico é feito a partir de entrevistas, isto é, não há exames que detectem a doença. Seus “defensores”, por assim dizer, afirmam existir mais de 10 mil estudos relatando seus sintomas, os primeiros datando dos anos 1700.
Todavia, isso são hipóteses, teorias. Muitos profissionais, especialmente de outros ramos da medicina, questionam a causa, o diagnóstico, o tratamento com remédios e a utilização do transtorno como justificativa para desempenhos fracos na escola. Alguns, mais radicais, duvidam até da própria existência do TDAH.
Muitos profissionais questionam a causa, o diagnóstico, o tratamento com remédios e a utilização do transtorno como justificativa para desempenhos fracos na escola
Mesmo assim, resolvi seguir as recomendações do meu médico. Durante uma semana, vivi sob o efeito do remédio tarja preta (leia o diário no fim do texto), apelidado por seus críticos de “droga da obediência”. Nem a Novartis, laboratório fabricante, nem a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (anvisa) revelam os números de vendas. Mas previsões do Instituto Brasileiro de Defesa dos Usuários de Medicamentos (Idum) dizem que, em tese, nos últimos 11 anos, elas galoparam cerca de 3.200%. O número coloca o Brasil como o segundo maior consumidor de Ritalina do mundo, perdendo apenas para os Estados Unidos.
A pesquisa não contempla o mercado negro, que, ao que parece, é bem movimentado. Bastou meia hora no Google para encontrar diversos anúncios de gente oferecendo o remédio “off label” (sem receita). Por telefone, acordei de encontrar um vendedor em uma estação de metrô na manhã do dia seguinte. Chegando lá, um motoboy me entregou em mãos um envelope pardo e pediu que eu conferisse o conteúdo: Ritalina 10 mg, 20 comprimidos, lacrada e dentro da validade. Valor: R$ 80. Nas farmácias, sai em média por um quarto do preço. Relativamente barata, fácil de conseguir e teoricamente segura, a “Rita” vem sendo usada também por estudantes e baladeiros que querem bombar a energia e espantar o sono. A moda teria surgido em clubs e colleges norte-americanos.
O efeito de cada drágea de cloridrato de metilfenidato, nome verdadeiro da Ritalina, dura em média quatro horas. Assim como outras “inas” – a cocaína, a cafeína e as anfetaminas –, ela é considerada um psicoestimulante. Seu mecanismo de ação ainda não foi completamente elucidado. Mas acredita-se que ela aumenta a produção e o reaproveitamento da dopamina e da noradrenalina, neurotransmissores associados às sensações de prazer, excitação e ao estado de alerta do sistema nervoso. A bula alerta para a dependência física ou psíquica, além de elencar uma série de reações adversas como nervosismo, dificuldade em adormecer, diminuição no apetite, dor de cabeça, palpitações, boca seca e alterações cutâneas.
No FDA, órgão governamental dos Estados Unidos responsável por controlar alimentos e medicamentos, há 186 registros de óbito citando o uso prolongado do metilfenidato. Um dos nomes é o do jovem Matthew Smith – falecido aos 14 anos, metade deles fazendo uso da substância. Seus pais fundaram o Ritalindeath.com com a missão de “prover informações sobre a verdade oculta do TDAH e das drogas usadas em seu tratamento”.

Laboratórios é que bancam

O site da Associação Brasileira do Déficit de Atenção (ABDA) é o primeiro que aparece quando se faz uma busca virtual sobre TDAH. Nele há o cadastro de médicos do país todo especialistas no assunto, onde encontrei o contato do psiquiatra que me atendeu. A associação, fundada pelo doutor Paulo Mattos e um paciente em 1999, também realiza eventos para divulgar a causa e oferece cursos de treinamento para professores.
A entidade é patrocinada pelos laboratórios que fabricam, segundo o site, “os remédios de primeira linha para o tratamento de TDAH”. São eles: Novartis, produtora da Ritalina e da Ritalina LA (mesma substância, mas com dosagens mais altas); Janssen Cilag, do sugestivo Concerta; e Shire, do recém-lançado Vevanse. “Ninguém recebe salário, exceto a secretária. Por isso precisamos de incentivos privados. Não há conflito de interesse, desde que, claro, você apresente a situação para as outras pessoas”, explica o doutor Paulo Mattos.
No ano passado, a Novartis e a ABDA promoveram em parceria o concurso “Atenção Professor”, com o objetivo de “ajudar os educadores a conhecer e lidar melhor com o TDAH”. Ganhavam as três escolas que apresentassem as melhores propostas de inclusão de portadores na sala de aula. Como prêmio, R$ 7 mil em dinheiro e uma garrafa de champanhe. Recentemente, um projeto de lei institucionalizando o diagnóstico e o tratamento de TDAH nas escolas foi aprovado no Senado, restando apenas três comissões para que a aprovação se repita na câmara dos deputados.
“Nenhum medicamento no mundo daria conta da complexidade que é o processo de atenção e aprendizado de uma criança”

“Ciência não se discute”

A psicóloga Iane Kestelman, atual presidente da ABDA, descobriu a organização quando seu filho, “sumariamente reprovado em todas as matérias na escola”, foi diagnosticado com o transtorno. “Nossa vida mudou, e para melhor. Meu filho iniciou o tratamento e passou na melhor faculdade de economia do país. Ele toma remédio há 12 anos e não virou nenhum robô, como dizem por aí”, ela conta, a voz embargada do outro lado do telefone. Orgulhosa do caso de sucesso na família, ela relativiza a epidemia do TDAH e o boom nas vendas da Ritalina: “É um bom sinal. Significa que estamos cumprindo nosso papel, que mais gente está conhecendo a doença e o tratamento adequado”.
De acordo com uma pesquisa recente realizada por USP, Unicamp e Albert Einstein College of Medicine quase 75% dos jovens brasileiros que utilizam Ritalina ou similares não foram diagnosticados corretamente. Iane e doutor Paulo Mattos, porém, furtam-se a discutir uma possível fragilidade e/ou subjetividade no diagnóstico da doença. “Achamos isso ofensivo, inclusive. Ciência não se discute. Ela não está preocupada se você concorda com ela ou não”, diz a psicóloga. “Isso é um pseudodebate. Quem duvida da existência do TDAH nunca publicou nenhum artigo sobre o assunto, não tem qualificação. Você não vai chamar um pajé para discutir com um neurocientista”, engrossa o coro seu colega.
“TDAH não existe”

Marilene Proença não é um pajé. É psicóloga, integrante do Instituto de Psicologia da USP, e opõe-se à razão de ser da ABDA. “TDAH não existe. O que existe são crianças diferentes, com formas de aprender diferentes. Algumas são mais focadas, outras mais dispersas. Não existe um padrão de aprendizado”, ela postula. Para Marilene, a solução não cabe em um comprimido branco de pouco mais de 1 cm de diâmetro: “Nenhum medicamento no mundo daria conta da complexidade que é o processo de atenção e aprendizado de uma criança. Ele envolve afetividade, desejo, representações que a criança cria”.
Para os pais aflitos, que não sabem o que fazer com seu filhos travessos, ela acena um caminho, antes que eles decidam passar a bola para um psiquiatra: “A primeira coisa é ouvir a sua criança. O que ela tem a dizer sobre a escola? Os amigos a tratam bem? O professor escuta ela? Mudar para uma escola que entenda melhor a criança também deve ser levado em consideração”.
O problema não estaria na cabeça das pessoas, mas na sociedade. É o que acredita Maria Aparecida Moyses, pediatra e professora da Unicamp: “Se tem tanta gente deprimida ou desatenta, temos que entender que elas estão sendo produzidas pelo modo que a gente vive. Nunca se tomou tanto remédio e nunca houve tantas pessoas doentes. Isso não pode estar certo. O que eles fazem é uma biologia de um corpo morto, de um cérebro sem vida, sem afeto, isolado do meio em que vive”.
Atendendo em um centro de saúde público em Campinas, ela diz já ter presenciado casos de jovens viciados no metilfenidato, que clamavam pela sua dose diária durante as férias, quando normalmente a posologia é suspendida. Pergunto então se ela daria Ritalina para um filho seu. “Sou contra”, ela retruca. “Ficar parado é, na verdade, uma reação adversa dos estimulantes. Focar atenção é sinal de toxicidade, não é efeito terapêutico.” Mas então o que você daria para ele? “Ritalina nem pensar. Daria... Rita Lee.”

Doente, eu?

Pela primeira vez na vida, nosso repórter visitou um psiquiatra. A razão: averiguar o surto nos diagnósticos de TDAH. Para sua surpresa, deixou o consultório com uma receita para três caixas de Ritalina 10 mg. Na dúvida, resolveu acatar o doutor – mesmo que apenas por uma semana
Quarta-feiraTomo o primeiro comprimido às 10h30. Meia hora depois, sinto um anestesiamento sutil, como se uma película me separasse do entorno. Enquanto preparo a quentinha que levarei para almoçar, meu pai fala sobre uma passeata pró-Amazônia. Tenho que parar mais de uma vez para entendê-lo, como se não conseguisse fazer duas coisas ao mesmo tempo. Sinto uma pressão na cabeça. Assim que ponho os pés na rua, percebo que esqueci a quentinha. A caminhada do ponto de ônibus até a redação, coisa de 5 min, me dá uma sede surreal. Ninguém nota nada de diferente em mim.
Quinta-feiraAcordei várias vezes durante a noite, algo incomum para mim. Sonhei que estava na escola e que entregava uma prova de matemática em branco. Desperto com uma espinha na testa e uma enxaqueca fortíssima, que dura até a hora em que tomo o comprimido do dia. Não percebo nenhum upgrade na atenção, mas meus editores se espantam quando entrego um texto de duas páginas ainda no meio do dia – nenhum recorde, mas sem dúvida um episódio inédito na minha carreira. Relendo- o, porém, não gosto tanto do resultado. Não lembro da última vez que bocejei, mesmo sem tomar um gole de café há dois dias.
Sexta-feira
Hoje o negócio bateu de verdade. Sinto o maxilar travado. Estou ansioso. E a pressão na cabeça voltou. Tomar banho, esperar o elevador, pegar o ônibus e demais atos corriqueiros parecem mais enfadonhos que o normal. Estranhamente, fico doido para chegar à redação e trabalhar. Meu chefe diz que estou com uma cara estranha. De fato sinto os músculos da face meio paralisados, as expressões limitadas. Fico abespinhado sempre que algo ou alguém me interrompe. Sinto-me mais concentrado, mas percebo que só consigo focar uma coisa por vez.
Sábado e domingoComo o doutor disse que o medicamento só deveria ser ingerido quando a atenção fosse exigida e que ele não combina muito com os prazeres mundanos da vida, resolvo suspender o uso pelos dois dias.
Segunda-feiraEstou introspectivo. Sinto os mesmos efeitos colaterais de antes – pressão na cabeça, ansiedade, irritação –, porém mais fortes e acompanhados de uma sudorese nas mãos. O pensamento embaralhou, passo o dia todo escrevendo e deletando na mesma proporção. No fim do expediente, um saldo mísero de um parágrafo. Não sinto fome na hora do almoço – outro episódio inédito. Me forço a comer uma torta de frango, que deixo pela metade. Fico preocupado.
Terça-feiraPor conta do rendimento pífio de ontem, estou atrasado para escrever esta matéria. Dado o revertério do dia anterior, decido não arriscar e ficar clean por hoje. Doeu, mas consegui parir o texto. Concluo que, no meu caso, nada melhor do que um prazo e um editor à espreita para acertar o foco e fazer o que deve ser feito.

18 de outubro de 2012

II Simpósio de Psicanálise da USS


Nos dias 9 e 10 de novembro vai acontecer o II Simpósio de Psicanálise da USS, em Vassouras.
Vou dar uma conferência no dia 10 sobre Anorexia e a pesquisa que venho conduzindo no Mestrado na UERJAgradeço a profª. Fernanda Samico, organizadora do evento, pelo convite. 



3 de outubro de 2012

IX SIMPÓSIO DO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM PSICANÁLISE DA UERJ & IV COLÓQUIO INTERNACIONAL ESCRITA E PSICANÁLISE: LINGUAGEM E ESCRITAS DO CORPO



IX SIMPÓSIO DO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM PSICANÁLISE DA UERJ & IV COLÓQUIO INTERNACIONAL ESCRITA E PSICANÁLISE: LINGUAGEM E ESCRITAS DO CORPO 
 
O IV Colóquio Internacional Escrita e Psicanálise está inscrito na Rede de Pesquisa
Escritas da Experiência, que reúne pesquisadores de diversos centros de pós-graduação do país e
da França e tem como tema central de investigação a inter-relação da escrita com a produção de
um sujeito na experiência. A produção dessa rede vem sendo debatida em diversos colóquios:
em 2006 (na UERJ) e 2008 (na UFSC) foram realizados dois Colóquios internacionais,
reunindo os trabalhos dos pesquisadores que compõem a Rede e deles resultaram duas
publicações. Em2007 foi publicada a coletânea "Escrita e Psicanálise" (Ed. Cia. de Freud)
organizada por Ana Costa e Doris Rinaldi, resultante do colóquio do ano anterior e em 2009 foi
publicado o livro do segundo evento - intitulado “Escrita e Psicanálise II” (Editora CRV)-
organizado por equipe de Florianópolis (Sergio Scotti ET alii). Em novembro de 2010 foi
realizado um terceiro colóquio promovido conjuntamente pela Unité Transversal de Recherche
Psychogenèse et Psychopathologie, Université Paris 13 e pelo Programa de Pós-graduação em
Psicanálise da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Na ocasião, além de pesquisadores da
Rede, de professores e alunos das universidades de Paris 13 e da UERJ, participaram também
professores do Canadá. Parte dos trabalhos apresentados nesse colóquio será publicada no livro
“A escrita como experiência de passagem”, organizado por Ana Costa e Doris Rinaldi (Cia. de
Freud – no prelo). Os pesquisadores do grupo têm mantido diversas formas de trabalho
conjunto, tais como: ministrar disciplinas, escrita de artigos, participação em bancas de teses e
dissertações, palestras em universidades parceiras da Rede. A realização do IV Colóquio
Internacional Escrita e Psicanálise visa dar continuidade a essas trocas. O tema proposto é
“Linguagem e escritas do corpo”, fundamentado no argumento a seguir:
A escrita do corpo tem por referência dois registros que permitem orientar uma
inteligibilidade das marcas corporais: o traço simbólico e o objeto pulsional. O traço simbólico
faz referência ao ato de marcar o corpo numa função de ocupação do lugar da “memória”, de
um traço originário, um traço que se inscreve no encontro entre o real e o simbólico. O segundo
registro envia à queda dos objetos pulsionais, que fazem contorno das bordas das zonas de gozo.
A escrita do corpo é um processo em devir, que faz aparecer dois movimentos em tensão no
interior do campo do “parecer”: aquele do desenvolvimento, ou mesmo da exibição pelas
marcas e, ao mesmo tempo, aquele do velamento e da máscara. Escrever/inscrever seu corpo
consiste, com efeito, em mostrá-lo e também dissimular suas marcas, que devem ser decifradas,
para traduzir a intimidade e o segredo. Por “escrever seu corpo” deve-se entender escrever sobre
seu corpo, mas igualmente escrever seu corpo em outro lugar, particularmente nos espaços de
vida comum dos ambientes urbanos. Além das relações às marcas corporais, o colóquio se
dirige a pensar nas diferentes expressões do corpo na clínica, o que implica sua inscrição em
diferentes formações: desde a psicossomática, até as expressões da psicose. Nosso colóquio tem
a ambição de articular a referência clínica, incluindo sua sintomática, com uma aproximação
linguageira do corpo, nas suas diferentes expressões. Com isso, abre-se a possibilidade de um
diálogo entre psicanálise e outras disciplinas.

PROGRAMA DO EVENTO

05 de novembro de 2012
08:30h
MESA DE ABERTURA:
Rita Maria Manso de Barros (Diretora do IP/UERJ)
Luciano da Fonseca Elia (Coordenador dão PGPSA/ UERJ)
Ana Maria Medeiros da Costa (Coordenadora do evento /UERJ)
Doris Luz Rinaldi (Coordenadora do Evento/ UERJ)

09:00 às10:30h
1ª MESA: SE ESCREVER, SE INSCREVER, SE CONSTRUIR : CORPO
E ADOLESCÊNCIA.

Eric Bidaud ( PARIS 13) – Acontecimentos do corpo na adolescência
Marie-Anne Paveau (Paris 13) - O dedipix nos adolescentes: uma inscrição corporal efêmera e tarifada

10:30 às12:00h
2ª MESA: CORPO E ARTE

Edson Luiz de Souza (UFRGS) - Escrita e Arquitetura do corpo na obra de Matta-Clark
Renata Mattos (Universidade de Nice) - Escrita do excesso: a voz exaltada no barroco
Doris Luz Rinaldi (UERJ) – Corpo, dança e palavra

12:00 às 13:30h
ALMOÇO


13:30 às 15:00h
3ª MESA: ESCRITA, MARCA E REAL

Nina Vírginia Leite (UNICAMP) - Marcas Indeléveis: significante e letra
Ana Paula Britto Rodrigues e Heloisa Caldas (UERJ)- O real do corpo em épocas de empuxo ao Storytelling
Bethania Mariani e Vanise Medeiros (UFF) – E quando a pichação é da prefeitura: pichar, proscrever, dessubjetivar.

15:00 - 16:30h 
4ªMESA: CORPO E ESCRITA
Fernanda Jourdan (PARIS 13)- A escrita do corpo na psicose pelo sinthoma
Maritza Magalhães Garcia (UERJ) – A palavra que faz corpo
Ana Maria Medeiros da Costa (UERJ) - Afetamentos do corpo

16:30 às 17:00h COFFE-BREAK / EXPOSIÇÃO DE PÔSTERES

17:00 - 18:30h 
5ªMESA: ESCRITA E FEMININO
Ana Laura Prates e Sonia Alberti (UERJ) – A letra no corpo e a sexuação
Maria Cristina Poli ( UFRJ) - O corpo na escrita feminina
Rita Maria Manso de Barros (UERJ) – “Se você perder a virgindade eu te quebro toda”
18:30h Lançamento do livro / Coquetel


06 de novembro de 2012

09:00 às 10:30h
1ªMESA: ESCRITA E INSCRIÇÃO

Marco Antonio Coutinho Jorge (UERJ)- Entre a vida e a morte: escritas do desejo
Sérgio Scotti (UFSC)- O corpo erógeno e as inscrições do Outro
Ana Luiza Andrade (UFSC) – Zootecnias corpóreas: hibridismos, metamorfoses, anamorfismos
Monica Visco - "Ler, escrever, perder: Rosencrantz & Guildenstern estão mortos”

10:30 às 12:00h
2ª MESA: ATO E LETRA

Maria Fátima Gonçalves Pinheiro (UERJ) - O corpo e a letra
Luciana Brandão (UEPA - Escrita, tempo e espaço na experiência do despertar
Manuela Lanius (UERJ)- Escrita Sagrada

12:00 às 13:30h
ALMOÇO


13:30 àS 15:00 h
3ª MESA: ESCRITA E TRAUMA

Denise Dal-Col (UFRJ) - Corpo e psicossomática
Miriam Debieux (USP) – Escrita e imigração
Tainá Pinto (UNB) – Traço, trauma, trauço

15:00 às 16:30h
4ª MESA: ESCRITA E PRODUÇÃO DE IMAGEM

Tania Rivera (UFF) - A fotografia como inscrição do sujeito
Thoya Mosena (UFRJ)- Fotografia, corpo e cidade
André Lopes (UERJ) – Fotografia e literatura

16:30 às 17:00h
COFFE-BREAK
17:00 às 18:30h 5ª MESA- ESCRITAS DA CLÍNICA

Cláudia Escórcio do Amaral Pitanga (UERJ) - A escrita do corpo na psicose
Sonia Leite (UERJ) – Escrita e Psicose
Luciano da Fonseca Elia (UERJ) - A escrita e a invenção do afazer clínico

18:30h
ENCERRAMENTO


INSCRIÇÕES DE PÔSTERES : 24/09 A 10/10/12
As propostas deverão ser encaminhadas para o e-mail:
pgpsa_eventos@yahoo.com.br

23 de setembro de 2012

22 de setembro de 2012

Bullying: o limite entre brincadeira e agressão


"Bullying" é a palavra da moda entre os pais, professores, educadores e até entre as próprias crianças.
Mas é fundamental distinguir as situações nas quais os pais e professores precisam intervir, daquelas onde a criança pode - e deve - se virar sozinha!


O problema do mundo sem bullying

A palavra bullying faz qualquer pai se arrepiar de medo. Mas uma linha de especialistas diz que não há o que temer: crianças e adolescentes precisam passar por apuros, e sozinhos. Do contrário, poderão cair numa enrascada ainda pior










Era coisa de criança. Colar chiclete na cadeira dos outros, fazer cuecão no nerd da turma, rir do cabelo cortado do colega. Mas agora brincadeiras como essas ganharam um nome sério: bullying. E passaram a ser resolvidas por adultos: pais, mestres e até, em alguns casos, polícia. 

O termo bullying significa a prática de agredir alguém fisicamente, verbalmente, até por atitudes (como caretas). Mas tem sido usado como um alarme, um chamado para que adultos interfiram no relacionamento de seus filhos e alunos. Uma nova linha de pesquisadores, no entanto, vem defendendo que o bullying não é necessariamente um problema para gente grande. Segundo eles, as picuinhas entre crianças e adolescentes devem ser resolvidas pelos próprios envolvidos. Sem adultos como juízes. 

Esses especialistas não dizem que crianças devem trocar socos na saída da escola. Nem que apanhar faz bem. Afirmam, sim, que disputar é como um rito, pelo qual passamos no início da vida para saber enfrentar as encrencas maiores do futuro. Afinal, fazemos isso desde os tempos mais remotos. "Em boa parte da história da humanidade a agressão foi um traço adaptativo", escreve Monica J. Harris, professora de psicologia da Universidade do Kentucky, em Bullying, Rejection and Peer Victimization (sem tradução em português). No passado, os homens disputavam comida para garantir a sobrevivência. O conflito definia quem ia perpetuar a espécie e quem ficaria para trás. "Aqueles humanos mais agressivos em termos de buscar as coisas e proteger seus recursos e parentes tinham mais chances de sobreviver e reproduzir", afirma Monica. Enquanto os homens teriam aprendido a usar a força física, as mulheres desenvolveram habilidades mais sutis, como agressões verbais - fofocas e rumores. 

Se antes essas táticas garantiam a sobrevivência, hoje nos ajudam no convívio social. Quando as crianças deixam o conforto do lar para frequentar o colégio, descobrem que nem sempre suas vontades são atendidas. E que precisam negociar o tempo todo, como por um brinquedo ou por um lugar para sentar. Sem passar por isso, será mais difícil lidar com um desafeto no futuro, como um chefe, o síndico do prédio ou aquele amigo que empresta dinheiro e nunca paga. 

O resultado da superação desses primeiros embates aparece cedo. Um estudo com 2 mil crianças com idade de 11 e 12 anos feito pela Universidade da Califórnia em Los Angeles mostrou que aquelas que tinham algum rival na turma da escola eram vistas como mais maduras pelos professores. As meninas que reagiam a alguma antipatia foram consideradas donas de maior competência social. Os meninos com inimizades foram classificados como alunos com melhor comportamento. Nesses casos - que não envolviam agressões físicas, segundo a pesquisa -, as crianças não só aprenderam a reagir a menosprezo, pressão e sarcasmo como ainda ganharam status no colégio. "Tanto para meninos quanto para meninas, ter uma antipatia mútua com alguém de outro sexo é associado a popularidade", escreve a pesquisadora e autora do estudo Melissa Witkow, hoje professora de psicologia da Universidade Willamette, nos EUA. 


Medo: o rival dos pais A recente onda de crimes ligados a bullying, no entanto, criou o temor de que crianças e adolescentes talvez não deem conta da briga sozinhos. A comprovação disso estaria em casos como o de Wellington Menezes de Oliveira, que guardou por anos o rancor das humilhações que passou em um colégio em Realengo, no Rio de Janeiro - até voltar lá, em abril, e disparar contra alunos, deixando 13 mortos. O resultado de histórias assim foi uma pressão de pais, mestres e legisladores para que o comportamento das crianças seja mais controlado. E para que até a polícia seja chamada para impedir as agressões. Em junho, o Senado brasileiro aprovou um projeto de lei determinando que as escolas inibam atitudes e situações que possam gerar bullying (o projeto segue para a Câmara). Em maio, um americano de 17 anos, que não teve o nome divulgado pela polícia, foi preso por dar notas às colegas de turma - altas para as mais bonitas, baixas para as mais feias - e publicar a avaliação no Facebook. 

Essa reação é chamada de superproteção pelos pesquisadores que defendem a não intervenção dos adultos nas disputas entre crianças e adolescentes. "É como se o mundo inteiro estivesse sofrendo de amnésia. Os adultos se esqueceram de que passaram pelas mesmas disputas no colégio", diz Helen Guldberg, psicóloga e professora de desenvolvimento infantil na Open University, Inglaterra. Segundo Helen, estamos julgando as atitudes das crianças com base nos valores de adultos. "O comportamento das crianças - as palavras que usam, o jeito brusco com que, por exemplo, excluem outros de suas brincadeiras - está sendo julgado com a seriedade com que encararíamos o relacionamento entre adultos em um escritório", afirma. 

Essa linha de não intervenção defendida por gente como Helen Guldberg é polêmica. Para os críticos, desavenças simples podem ser o início de conflitos mais graves - eventos que poderão deixar marcas físicas e psicológicas. "O bullying é um problema sério que precisa ser combatido", diz Aramis Lopes Neto, pediatra e estudioso do tema. Mas em um ponto as duas linhas concordam: quando a briga se repete e se prolonga por um tempo, e só um lado sai sempre perdendo, é porque a criança já está derrotada. E é hora de os adultos entrarem em ação. 

Prestar atenção ao comportamento da criança ajuda a descobrir se é o caso de intervir. Mudanças repentinas, como queda no desempenho escolar ou aumento da agressividade, são sinais importantes. Se o problema não for resolvido, alguns efeitos podem se estender. "Muitos adultos trazem da infância dificuldades de relacionamento social e baixa autoestima", afirma Lopes Neto. Isso atrapalharia a vida profissional e pessoal, como a capacidade de manter relacionamentos estáveis. "Há vítimas que não se desenvolvem profissionalmente por medo de se expor e se tornar alvo de bullying no trabalho", diz o médico. É como se elas não conseguissem nunca sair da zona de conforto. Exatamente o que pode acontecer com quem passa a infância na sombra dos pais, sem enfrentar uma briga sozinho. 


Como lidar 
Se os pais sentem que a criança não está conseguindo resolver suas disputas sozinha, talvez seja a hora de ajudar. "A família deve mostrar que está atenta às agressões", afirma o pediatra Aramis Lopes Neto. E pedir a colaboração da escola. Programas que incluem esportes, artes e brincadeiras ajudam a inserir a criança no círculo dos colegas. "Melhorar as relações no colégio significa para as crianças um aumento de confiança e o sentimento de que ela é aceita", diz Dan Olweus, professor de psicologia da Universidade da Noruega, no livro Bullying at School. 


Para saber mais 

Bullying, Rejection and Peer Victimization 

Monica J. Harris, 2009, Springer Publishing Company 


Bullying Escolar: Perguntas & Respostas 

Cleo Fante e José Augusto Pedra, 2011, Artmed Editora 


fernandapimentel.com

21 de setembro de 2012

A prevalência das mulheres nas redes sociais: “democratização” da representação feminina


Facebook, o novo espelho de Narciso
As mulheres estão se tornando maioria nas redes interativas; a vaidade e a necessidade de afirmação da identidade podem explicar o interesse feminino por esse recurso tecnológico


As mulheres gastam mais do que o dobro do tempo dos homens no Facebook: três horas por dia, enquanto eles gastam uma hora, em média. Entrar na rede social é a primeira ação diária de muitas delas, antes mesmo de irem ao banheiro ou escovarem os dentes. Uma atividade cumprida como um ritual todos os dias – e noites. Em um estudo, 21% admitiram que se levantam durante a noite para verificar se receberam mensagens. Dependência? Cerca de 40% delas já se declaram, sim, dependentes da rede. Elas são a maioria não só no Facebook (onde representam 57% dos usuários); também têm mais contas do que os homens em 84% dos 19 principais sites de relacionamentos.


Essas são algumas revelações da pesquisa feita pelas empresas Oxygen Media e Lightspeed Research, que analisou os hábitos on-line de 1.605 adultos ao longo de 2010. Mas cabe ainda perguntar: que motivos levam as mulheres a ficar tanto tempo na frente do computador? Vaidade? Necessidade de reconhecimento? Seria esse fenômeno uma nova forma de autoafirmação? Uma maneira de desenvolver sua individualidade aliada ao reconhecimento do outro? Será essa uma nova forma de buscar sociabilização? 


Mais do que procurar uma resposta fácil, cabe, antes, compreender por que a auto-representação é mais importante para as mulheres que para os homens. Historicamente as representações femininas foram fabricadas por motivações sociais diversas: míticas, religiosas, políticas, patriarcais, estéticas, sexuais e econômicas. E, há mais de vinte séculos, essa fabricação esteve sob o poder masculino. As mulheres não produziam suas próprias imagens, eram retratadas. 


Em obras de arte célebres vemos inúmeras Vênus adormecidas, (como as de Giorgione, 1509; Ticiano, 1538 e Manet, 1863); Madonas castas (nas imagens religiosas das catedrais católicas como as pintadas por Giotto, no século13, e Botticelli, no 15) ou mulheres burguesas no espaço doméstico cuidando da cozinha e da educação dos filhos (como as pintadas por Rapin e Backer no século 19). Eram cenas “pedagógicas”, que ensinavam o valor da maternidade, da castidade, da beleza e da passividade.


O pano de fundo dessas produções artísticas era uma tentativa masculina de “gerenciar” o imaginário feminino, transmitindo sugestões sobre a conduta social desejada até uma estética sexual e familiar. Como enfatiza a historiadora Anna Higonnet “os arquétipos femininos eram muito mais do que o reflexo dos ideais de beleza; eles constituíam modelos de comportamento”. Sua capacidade de persuasão era ativada pelo contexto cultural. Um exemplo pontual, mas significativo, pode ilustrar essa hipótese. O nu é quase sinônimo do “nu feminino”. Do Império Romano, passando pelo Renascimento, pela Modernidade e até os dias de hoje, o corpo da mulher reflete os ideais estéticos predominantes.

vênus adormecida, óleo sobre tela, giorgione, 1508-10, galeria dos grandes mestres da pintura
A estética feminina foi estabelecida, durante muitos séculos, pelo olhar masculino; as obras de arte tinham cunho “pedagógico”, com a intenção de ensinar como as mulheres deveriam ser

A historiadora francesa Michelle Perrot chegou a afirmar que “a mulher é, antes de tudo, uma imagem”. Aqui sua ênfase é irônica. Refere-se a uma forma de retratar que associava os cuidados com o corpo, os adornos, as vestimentas e a beleza em geral à atividade, ou melhor, à ociosidade tipicamente feminina”, enquanto os homens deveriam se ocupar de tarefas consideradas sérias: política, economia e trabalho.


Quando a era moderna pareceu, enfim, trazer a emancipação da mulher, a conquista revelou-se contraditória. Estar na moda, ser magra, bem-sucedida e boa mãe tornou-se uma exigência. Com a ajuda do photoshop, top models, estrelas de televisão e cantoras exibem nos meios de comunicação o êxito que conquistaram em todos os aspectos do sucesso – o que, na prática, nem sempre é verdade. Elas, em geral, são tão “irreais” quanto a Vênus grega. A verdade é que a mídia veicula uma série de estereótipos sobre como agir que se tornam um peso para a mulher. Não devemos nos esquecer de que quem assume o comando é o mercado interessado em vender roupas, revistas e produtos destinados ao público feminino – e não propriamente a mulher. Assim, mesmo no século 20, quando pareciam ganhar “autonomia”, elas passaram a ser atormentadas por padrões estabelecidos por outra base imaginária: a do consumo.


O que muda no século 21 para as mulheres que utilizam as redes sociais? Quanto à importância da imagem, nada. Ela -continua a ter papel central para a identidade social feminina, confundindo-se com ela. Por outro lado, vivemos, sim, uma revolução: pela primeira vez a mulher passa a se autorrepresentar, a produzir representações de si publicamente. Essa produção não está mais sob o domínio exclusivo dos homens, nem restrita a um grupo de mulheres como as artistas (atrizes, fotógrafas, cineastas, pintoras, escultoras etc.) ou as modelos. As mulheres comuns tornam-se protagonistas de sua vida. Chegam a dispensar a ajuda de outra pessoa para tirar a própria foto: estendem o braço e miram em sua própria direção. Algumas marcas de câmeras fotográficas desenvolveram inclusive um visor frontal para que a pessoa possa ajustar o foco caso use o equipamento para se fotografar.


A mulher “hipermoderna” reivindica algo novo: o seu protagonismo público e sua “autenticidade”. O que se soma, agora, à revolução tecnológica da sociedade capitalista. Com acesso facilitado a câmeras digitais, a telefones móveis que dispõem desse equipamento e à rede, além da existência de uma plataforma que dá suporte ao armazenamento e oferece possibilidades ao usuário para compartilhar essas imagens pela internet, a mulher passa a se autofotografar nas mais diversas ocasiões, de situações corriqueiras a viagens. Nas palavras do filósofo Gilles Lipovetsky: “O retrato do indivíduo hipermoderno não é construído sob uma visão excepcional. Ele afirma um estilo de vida cada vez mais comum, ‘com a compulsão de comunicação e conexão’, mas também como marketing em de si, cada um lutando para ganhar novos ‘amigos’ para destacar seu ‘perfil’ por meio de seus gostos, fotos e viagens. Uma espécie de autoestética, um espelho de Narciso na nova tela global”.

Nesse novo ambiente o artificialismo e a mistificação da imagem passam a ser “out”. Deusas etéreas cedem espaço a mulheres que querem ser vistas como “reais”: escovam os dentes, fazem caretas para a câmera, dirigem seu carro e não se importam em ser fotografadas em momentos que antes estariam à margem da esfera pública. Tanto que 42% das usuárias do Facebook admitem a publicação de fotos em que estejam embriagadas e 79% delas não veem problemas em expor fotos em que apareçam beijando outra pessoa. A regra é: quanto mais caseiro, “mais natural”; melhor. O que não significa que essa imagem seja, efetivamente, “natural”, mas que há agora um “gerenciamento da espontaneidade”.


O imperativo da representação feminina nas redes sociais é: “seja espontâneo”. Uma norma paradoxal, assim como a afirmação “seja desobediente, é uma ordem”, escreve o sociólogo Régis Debray. Ele faz uma interessante leitura do que poderíamos chamar de “ditadura da espontaneidade”. Segundo o autor, abandonamos o culto da morte, vivido pelas sociedades tradicionais e religiosas, para vivermos o “culto da vida pela vida” – uma espécie de “divinização do que é vivo” que se apoia no eterno presente e não mais em uma crença no além.


Vemos emergir mulheres que cultuam o que veem no espelho e postam, “religiosamente”, novas imagens de seu cotidiano – sem que tal culto resulte em algum tipo de censura externa ou de autocensura moral. Em outro contexto, como durante o período em que a religião católica era dominante, esse “culto de si
 e ao corpo seria considerado um dos sete pecados: a vaidade. Esse imaginário, aliás, é muito bem representado por um quadro do séc. 15, de Hieronymus Bosch, no qual o demônio segura um espelho para que uma jovem se penteie.


Hoje o novo espelho global não é marcado pela vigilância moral. Ao contrário, há um contínuo incentivo da cultura para que as mulheres “se valorizem”, busquem sua singularidade e não se baseiem mais em modelos inalcançáveis (como as top models e outras famosas). E para que percebam em si mesmas uma possibilidade legítima e singular de ser no mundo.
A própria familiaridade e aproximação da mulher com o universo da produção de auto-representações pode levá-la a questioná-las. As mulheres já estão, como escreve Lipovetsky em seu livro A tela global, “cultivadas” pela mídia. Educadas em sua gramática, sabem que o photoshop, a produção e a edição das imagens criam uma mulher irreal e passam a ver essas representações “entre aspas”, distanciando-se criticamente delas. Elas aprendem com recursos autoexplicativos a modelar sua iconografia, a alterá-la, brincar com ela ou melhorá-la (possibilidades, antes, restritas aos profissionais).


Mas a consagração do “culto de si” não significou um isolamento da mulher. Os álbuns publicados nas redes sociais conciliam, contra todas as expectativas, o individualismo e as trocas. Um se alimenta do outro. Há um ciclo: exponho minha individualidade, acompanho a do outro e ele a minha e, assim, somos incentivados a produzir e expor, cada vez mais, as nossas imagens. Trata-se do nascimento de uma “identidade coletiva”, em que a individualidade não elimina a interação, mas é seu motor. Nesse sentido, a identidade coletiva não é produto apenas de uma adesão grupal e sim uma forma de negociação de posições subjetivas – esse é o paradoxo identitário a ser considerado.


Fotos pessoais e “amigos” virtuais (ou não) ditam o ritmo desse espaço interativo. Quanto mais caseiro, mais cotidiano, mais espontâneo, maior o número de relações entre as pessoas, que passam a valorizar a autenticidade e a vida de quem é “próximo”, “real”. Há, na base desse fenômeno, uma democratização dos desejos de expressão individual na medida em que as mulheres buscam conquistar espaços de autonomia pessoal – que traduzem a necessidade de escapar à simples condição de consumidoras daquilo que outros produzem. Elas querem colocar seu rosto no mundo. Aparecer ou não na “tela global” passa a ser uma questão de existência. Por essa razão, ter visibilidade e oferecer sua identidade publicamente é conferir importância à própria existência. O que é, também, uma forma de poder. Nesse ponto a mídia – como campo de visibilidade – passa a ter papel central para entendermos a luta simbólica pelo reconhecimento.


No entanto, essa “democratização” da auto-representação feminina não deve ser tomada como sinônimo do fim da competição estética e ética entre as mulheres. O que tudo indica, o que presenciamos não é a instauração de uma igualdade, mas a ampliação do número de mulheres na disputa por visibilidade e poder. Amplia-se, assim, a arena para buscar um poder que não está dado de antemão, mas que deve ser conquistado e manejado pela apresentação e representação de suas singularidades, de suas diferenças. Um agir que se manifesta na criação, no controle e no poder simbólico de sua própria imagem no espaço público, que só se realiza com o reconhecimento do outro nas interações sociais, associativas e na ampliação dos círculos de reconhecimento que estão dentro e fora do espaço de produção da imagem.

 

17 de setembro de 2012

Documentário "Um encontro com Lacan" (Rendez Vous Chez Lacan - 2011)

Já está disponível no YouTube o documentário Rendez Vous Chez Lacan, (2011), dirigido por Gérard Miller.
A obra conta com a participação dos psicanalistas Eric Laurent, Jacques-Alain Miller e Judith Miller, entre outros, além de depoimentos de antigos analisandos.

Sinopse: 
"Nascido com o século XX, em uma família católica e de classe média, Jacques Lacan se formou como Psiquiatra. Teve a amizade de Picasso, Levi-Strauss e Sartre. Destacou-se no exercício prático e teórico da psicanálise e gerou polêmica entre os colegas de profissão. 
Com a ajuda de seu irmão Jacques-Alain, um dos maiores pupilos de Lacan, Gérard Miller tenta destrinchar a personalidade deste que até hoje é considerado um dos mais instigantes e controversos pensadores da história da psicanálise."








28 de agosto de 2012

Jornadas Clínicas da EBP - Rio: Horizontes do Feminino na Psicanálise.


 

A escuta freudiana revelou a importância psíquica da diferença sexual anatômica.
Não existem dois sexos complementares, pois no inconsciente só há um sexo:
o masculino. O feminino não encontra uma representação significante e a diferença
morfológica não é suficiente para localizar o Outro sexo, de tal modo que para os
psicanalistas a questão sobre o sexo não é a questão do gênero. O desejo
da mulher está em jogo na relação com o parceiro sexual, seja homem ou
mulher. A surpreendente expressão de Lacan “A mulher não existe” denota
o impossível da proporção entre os sexos. O feminino é não-todo regulado
pela lógica da castração edipiana que permite a assunção do próprio sexo.
Quais são as manifestações desse “não-todo” hoje?
Há uma dimensão do feminino que vem se tornando pregnante na nossa
cultura e que é preciso levar em conta na direção dos tratamentos. Isso diz
respeito, por um lado, a uma tendência à infinitização do gozo em alguns
sintomas contemporâneos que refletem uma patologia da ordem da adição.
Por outro lado, há um aspecto do feminino na atualidade que se verifica na
criatividade das soluções singulares, que não decorrem de uma norma para
todos, para lidar com o real.

As XXI Jornadas clínicas da EBP-Rio, em parceria com o ICP-RJ, apresentarão
as contribuições dos psicanalistas de nossa comunidade em relação aos eixos
 temáticos propostos.


Local
Centro de Convenções Bolsa do Rio
Praça XV, N. 20, Centro, Rio de Janeiro

Convidada internacional: Silvia Salman
Coordenação Geral
Angela C. Bernardes e Rodrigo Lyra Carvalho
Comissão Científica
Cristina Duba (Coordenadora) | Ana Lucia Lutterbach Holck | Angélica Bastos
Glória Maron | Ruth Cohen
Comissão Organizadora
Adriana Lipiani | Angélica Tironi (coordenação de infraestrutura)
Lydia Vasconcellos | Magda Delecave | Monica Rolo | Roberta Assunção
Rodrigo Fraga | Ronaldo Fabião (coordenação de tesouraria)
Sandra Landim | Sarita Gelbert (coordenação de comunicação)
Vanda Assumpção Almeida (coordenação de comunicação)
Vânia Gomes (coordenação de infraestrutura)