.
.

26 de outubro de 2011

Dica de leitura.

Dica de leitura: O parceiro amoroso da mulher atual, de Lêda Guimarães, publicado em Opção Lacaniana online, Ano 2 , Número 5 , Julho 2011

“Um homem quando ama é uma mulher”, assim proferiu
Pierre Naveau durante a jornada do ano 2000 da EBP-MG,
apoiado na formulação de Lacan “amar é dar o que não se
tem”, o que determina que a posição do amante contenha em
si a condição de castrado. Por essa razão, a sustentação de
uma posição masculina implica numa desvalorização da
vertente do amor e na prevalência da vertente erótica na
constituição das parcerias, como um mecanismo defensivo
fundamental para sustentar a identificação viril enquanto
dotado de falo. Mas isso não quer dizer que os homens não
saibam amar, como costumam se queixar as mulheres, pois
ainda que mantenham como linha de frente o traço perverso
da sua fantasia sexual, acabam escolhendo uma mulher,
dentre as demais, como seu objeto de amor privilegiado.
Seria também engano supor que as mulheres são mais
especialmente dotadas da capacidade de amar. Sua incessante
demanda de amor contém toda uma carga sexual que resulta na
erotomania própria ao estado de apaixonamento, no qual o
gozo feminino é experimentado sob o modo de um
arrebatamento, que mantém em primeiro plano uma
justificação em nome do amor: “me ame, mais, mais e mais
ainda”.
Para traçar algumas formulações acerca do parceiro
amoroso da mulher atual, vejamos inicialmente o que Lacan
nos diz, no livro 18 do seu Seminário, acerca do modo como
um homem poderá ser definido:
O importante é o seguinte, a identidade de
gênero é o que acabei de expressar com estes
termos ‘homem’ e ‘mulher’. É claro que a
questão do que surge precocemente só se coloca
a partir de que, na idade adulta, é próprio do
destino dos seres falantes que se distribuam
entre homens e mulheres. Para compreender a
ênfase que se coloca nessas coisas, neste caso,
é necessário nos darmos conta de que o que
define o homem é sua relação com a mulher e
vice-versa.
Tomando essa implicação direta entre homens e mulheres
em sua parceria sintomática, pretendo desenvolver algumas
formulações acerca das mulheres contemporâneas, levantando
a hipótese de que o declínio do viril não poderia ter sido
engendrado na história da civilização sem a contribuição,
ou até mesmo a imposição da sua parceira-sintoma.
Ocorreu na civilização, em um dado momento propício,
um fato radicalmente novo nas parcerias entre homens e
mulheres. A partir do século XII, o sonho do amor eterno
que faz pulsar o coração da feminilidade, alcançou um
estatuto simbólico na configuração da realidade de nossa
sociedade. Através do surgimento do amor cortês o estatuto
simbólico desse sonho emergiu nas palavras de amor do
cavalheiro gentil, dirigidas à sua dama inacessível. Com a
passagem dos ditos do amor cortês para o campo da escrita,
através das cartas de amor e das ficções literárias dos
romances impossíveis, o sonho feminino do amor eterno
ganhou um estatuto simbólico de verdade.
A aposta na crença do sonho de amor produziu nos
últimos séculos a liberdade social para constituir os laços
de casamento. O feminismo aqui se estabeleceu como o motor
fundamental dessas transformações, se instituindo
inicialmente como a luta das mulheres para alcançar uma
independência econômica que lhes permitisse a liberdade de
escolha da sua parceria amorosa. Desse modo, apoiadas na
crença das palavras do amor cortês, as mulheres
empreenderam uma luta contra as tradições da família
patriarcal, que determinava as regras dos laços de
casamento. A gênese do feminismo tomou, assim, como ponto
de mira o desafio à autoridade paterna, àquele que era
concebido como o juiz que ordenava a linha do destino das
mulheres. Podemos supor, dessa maneira, que o grande motor
do feminismo foi impulsionado pela aposta nas promessas do
amor cortês, instituindo com suas ganas o declínio da imago
paterna na civilização.
Oh! Lindo e esplendoroso amor, em que o cavalheiro
servil se curvava extasiado diante de sua deusa: A Mulher
impossível!
Porém, com o advento do feminismo, no qual A Mulher
quis engendrar-se como possível, imediatamente esse lindo
amor começou a desaparecer, pois à medida que as mulheres
passaram a falar em resposta ao apelo apaixonado do seu
amante, a desgraça começou a se abater sobre a virilidade
dos homens, reduzindo suas promessas de amor eterno ao
ridículo de meras falácias, instituindo a derrocada do
viril..."

Veja o artico completo em http://www.opcaolacaniana.com.br/pdf/numero_5/O_parceiro_amoroso_da_mulher_atual.pdf

Nenhum comentário: