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17 de março de 2010

Aula

Ouvi essa semana, numa aula do mestrado, a célebre frase de P. Picasso, citada por J. Lacan num de seus Seminários...
Confesso que pensei nela a semana inteira...



P. Picasso


"Não procuro, acho."
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Meus eus...

"Esses eus de que somos feitos, sobrepostos como pratos empilhados nas mãos de um empregado de mesa, têm outros vínculos, outras simpatias, pequenas constituições e direitos próprios - chamem-lhes o que quiserem (e muitas destas coisas nem sequer têm nome) - de modo que um deles só comparece se chover, outro só numa sala de cortinados verdes, outro se Mrs. Jones não estiver presente, outro ainda se lhe prometer um copo de vinho - e assim por diante; pois cada indivíduo poderá multiplicar, a partir da sua experiência pessoal, os diversos compromissos que os seus diversos eus estabelecerem consigo - e alguns são demasiado absurdos e ridículos para figurarem numa obra impressa. "

Virginia Woolf, in "Orlando"

Inibição dos Instintos

"A má consciência é para mim o estado mórbido em que devia ter caído o homem quando sofreu a transformação mais radical que alguma vez houve, a que nele se produziu quando se viu acorrentado à argola da sociedade e da paz. À maneira dos peixes obrigados a adaptarem-se a viver em terra, estes semianimais, acostumados à vida selvagem, à guerra, às correrias e aventuras, viram-se obrigados de repente a renunciar a todos os seus nobres instintos. Forçavam-nos a irem pelo seu pé, a «levarem-se a si mesmos», quando até então os havia levado a água: esmagava-os um peso enorme. Sentiam-se inaptos para as funções mais simples; neste mundo novo e desconhecido não tinham os seus antigos guias estes instintos reguladores, inconscientemente falíveis; viam-se reduzidos a pensar, a deduzir, a calcular, a combinar causas e efeitos. Infelizes! Viam-se reduzidos à sua «consciência», ao seu órgão mais fraco e mais coxo! Creio que nunca houve na terra desgraça tão grande, mal-estar tão horrível! Acrescente-se a isto que os antigos instintos não haviam renunciado de vez às suas exigências. Mas era difícil e amiúde impossível satisfazê-las; era preciso procurar satisfações novas e subterrâneas. Os instintos sob a enorme força repressiva, volvem para dentro, a isto se chama interiorização do homem; assim de desenvolve o que mais tarde se há-de chamar «alma».


Fotografia Helmut Newton

Aquele pequeno mundo interior vai-se desenvolvendo e ampliando à medida que a exteriorização do homem acha obstáculos. As formidáveis barreiras que a organização social construía para se defender contra os antigos instintos de liberdade e, em primeiro lugar, a barreira do castigo, conseguiram que todos os instintos do homem selvagem, livre e vagabundo, se voltassem contra o homem interior.
A ira, a crueldade, a necessidade de perseguir, tudo isto se dirigia contra o possuidor de tais instintos; eis a origem da «má consciência». O homem que, por falta de resistência e de inimigos exteriores, colhido no potro da regularidade dos costumes, se despedaçava com impaciência, se perseguia, se devorava, se amedrontava e se maltratava a ele mesmo; este animal a quem se quer domesticar, mas que se fere nos ferros da sua jaula; este ser a quem as privações fazem enlanguescer na nostalgia do deserto e que fatalmente devia achar em si mesmo um campo de aventuras, um jardim de suplícios, uma região perigosa e incerta; este louco, este cativo, de aspirações impossíveis, teve de inventar a «má consciência».
Então veio ao mundo a maior e mais perigosa de todas as doenças, o homem doente de si mesmo foi consequência de um divórcio violento com o passado animal, de um salto para novas situações, para novas condições de existência, de uma declaração de guerra contra os antigos instintos que antes constituíam a sua força e o seu temível carácter."

Friedrich Nietzsche, in "A Genealogia da Moral"

Mudanças no elenco de The Talking Cure

Comentei do filme The Talking Cure, de Cronemberg, onde Christoph Waltz interpretaria Freud. Parece que depois de algumas divergências Viggo Mortensen assume essa responsabilidade.

Veja a matéria do G1:

O ator austríaco Christoph Waltz, recentemente premiado com um Oscar por seu papel no filme "Bastardos inglórios", não aceitou o convite para interpretar Sigmund Freud na nova produção sobre o pai da psicanálise. O papel agora ficará com o americano Viggo Mortensen (de "Senhores do crime").

Waltz recusou o papel de Freud no filme, que será dirigido pelo canadense David Cronenberg, para participar de "Water for Elephants" - longa em que encarnará um personagem sádico, na linha do oficial nazista que lhe rendeu o Oscar de melhor ator coadjuvante deste ano.

"The talking cure"

O filme de Cronenberg, "The talking cure", narra um triângulo amoroso entre Freud, seu discípulo Carl Jung (vivido por Michael Fassbender, de "Bastardos inglórios") e uma jovem com problemas psicológicos que será interpretada por Keira Knightley (de "Piratas do Caribe").

Mortensen, que ficou mundialmente conhecido por sua participação na trilogia "Senhor dos anéis", já trabalhou com Cronenberg em "Senhores do crime".


Viggo Mortensen

Freud