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22 de fevereiro de 2010

O Avesso da Psicanálise

O Avesso da Psicanálise de Jacques Lacan, em quatro conferências de Alain Grosrichard, no IPLA, em São Paulo.

Veja o texto/convite:

O AVESSO E SUAS SURPRESAS

Durante essas quatro sessões, nossa principal referência será o seminário conduzido pelo Doutor Lacan na Faculdade de Direito, em 1969-1970. O lugar (em frente ao Panteão), a data (maio de 68, que ainda paira no ar), sem esquecer o desconcertante título O Avesso da Psicanálise, tudo deixava antever que seria cheio de surpresas. E não nos decepcionamos.
Lacan foi ali construindo, a partir de quatro letrinhas de sua álgebra, quatro figuras de quatro pés representando as únicas quatro maneiras de fazer laço social, em outras palavras, de se inscrever no que ele chamava de discurso, e isso sem mesmo precisar abrir a boca.
Eu que tenho, contudo, o dever de abrir a minha diante de vocês, é necessário que eu me inscreva, ao menos por jogo, no interior de um desses discursos, que são apenas quatro (mais uma variante capitalista um pouco enigmática que Marx nos ajudará a decifrar). Mas qual escolher?
Se eu decidisse não me situar em nenhum, eu me encontraria fora do discurso. Assim, desatado de qualquer laço social, eu ficaria completamente louco. Como vocês não saberiam o que fazer com o meu delírio, excluo essa hipótese.
Nem pensar, também, de me inscrever no discurso da Universidade. Para sustentá-lo, por muito tempo paguei com a minha pessoa, durante minha longa carreira, fazendo-me passar pelo Saber encarnado.
Quanto ao discurso do Mestre, aprecio demais minha liberdade reencontrada para sentir-me à vontade nele.
Mas nem por isso essa liberdade me autoriza a instalar-me diante de vocês no lugar chamado do “mais de gozar”, lugar do Analista no discurso do mesmo nome. Não tendo feito nenhum tipo de passe (confessá-lo-ei para minha vergonha, ou sem vergonha?), eu seria tratado de impostor.
Sobra o discurso da Histérica. Para um sujeito falante qualquer, mulher ou homem, é de longe o discurso mais acolhedor. Ocorre que é também o discurso do filósofo. É o discurso daquele que, tal como Sócrates, não tem medo de por em questão o Mestre, na esperança de fazê-lo produzir um saber do qual uma terceira orelha saberá tirar proveito. Não é exatamente o que vocês estão esperando de mim? Não hesito mais, então. Minha escolha está feita: vou reabrir meu velho Avesso da Psicanálise e questionar Lacan para vocês, desde a posição histérica.
No momento em que redijo essas linhas, ignoro evidentemente quais novas surpresas me reservará essa releitura. Uma coisa é certa: boas ou más, surpresas não faltarão. Além disso, para quem ainda acredita hoje no inconsciente, até as más surpresas sempre têm algo de bom. Por que diabo, então, eu teria medo?
Fica só entre nós, é claro. Em qualquer outro lugar, todo mundo exclamaria que estou assumindo um risco enorme, que eu deveria tremer de medo, tomar mil precauções, reler ao menos Jonas antes de reabrir Lacan. Vocês não. No temor e no tremor em que afundam seus contemporâneos, vocês fazem figura de exceção. Por mais que lhes citem Hobbes, para quem o medo está no fundamento de todo laço social, seu homo homini lupus os faz sorrir. “Basta de medo!” tal é o slogan de vocês, assinado Jorge Forbes.
Eu o deixo assumir corajosamente a responsabilidade. De minha parte, vou me contentar em lhes lembrar o conto de Grimm, que talvez vocês tenham lido na infância.
Era uma vez um menino que não conhecia o medo. Ora, ele desejava muitíssimo saber o que era ter medo. Seu pai, depois o padre, as pessoas caridosas que encontrava, e até mesmo o rei de seu país, bem que tentaram lhe ensinar. Infelizmente, todas as suas tentativas, até as mais terrificantes, se mostraram vãs. Até o dia em que sua jovem esposa (pois nem medo de casar ele tivera) lhe reservou a mais imprevista das surpresas...
Qual? Não adivinharam? Azar de vocês. Agora, vamos ao trabalho!
Alain Grosrichard

Mais informações:
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