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7 de janeiro de 2010

Alice, loucuras e maravilhas.

Artigo da Mente&Cérebro sobre a nova edição do clássico da literatura infantil Alice no país das maravilhas, publicado pela Cosac Naify

Com bom humor, obra de Lewis Carroll escrita há quase 150 anos aborda violência, insanidade e transtornos psíquicos – e ainda tem gente que pensa que é livro só para crianças


(...) Uma história pode ser lida de muitas formas e, com certeza, olhar de maneira aprofundada para o reino criado pelo inglês Lewis Carroll (1832-1898) oferece inúmeras possibilidades de interpretação e reflexão. Também não é à toa que já há muito tempo filósofos, psicólogos e educadores vêm se dedicando a desvendar aspectos da obra. Ao longo de todo o texto é possível encontrar referências simbólicas que remetem ao universo psíquico.

A história, que começa com uma meninha que cai em um buraco, acena para um ritual, para a entrada em uma outra dimensão. O autor busca referências no mundo dos sonhos para deixar vir à tona a insanidade dos personagens. A todo momento, a protagonista (e também o leitor) se confronta com uma lógica muito particular, como a do inconsciente, na qual a razão é tomada, invadida e superada. Nesse sentido, há um trecho especialmente curioso:

– Mas eu não quero ir para o meio de gente maluca – observou Alice.
– Ah, não adianta nada você querer ou não – disse o Gato. – Nós somos todos loucos
por aqui. Eu sou louco. Você é louca.
– E como é que você sabe que eu sou louca?
– Bem, deve ser – disse o Gato – ou então você não teria vindo parar aqui.


No mundo povoado por criaturas inusitadas, a gama de esquisitices (e possíveis patologias) é vasta. A Rainha apresenta um quadro de narcisismo exacerbado, ausência de compaixão e de empatia, além de tendência a comportamento violento. A Lebre e o Chapeleiro, por exemplo, parecem viver um uma loucura compartilhada (folie à deux): têm vínculo emocional forte e comungam crenças delirantes, principalmente em relação ao tempo (ambos crêm que são sempre 6 horas). A Duquesa é claramente incapaz de acolher um bebê: sacode o descontroladamente e recomenda que as crianças apanhem por espirrar, pois “obviamente” fazem isso para irritar os adultos. O Coelho Branco tem indícios de euforia e transtorno de ansiedade. O Albatroz sofre de narcolepsia. A centopeia é dependente de alucinógenos.

O título inicial dado à aventura inventada por Charles Lutwidge Dogson (verdadeiro nome do autor) – e oferecida de presente de Natal à pequena Alice (essa sim, uma garotinha de verdade) – era “As aventuras de Alice debaixo da terra”. Ao ser publicado pela primeira vez, em 1865, porém, o texto recebeu o título pelo qual o conhecemos hoje. Dois anos depois, Carroll escreveu "Através do espelho" e o que Alice encontrou lá, que também faz alusão ao mundo onírico. (...)

Veja o artigo na íntegra aqui.

5 de janeiro de 2010

The Talking Cure

Quando ouvi dizer que Cronenberg - diretor que eu adoro, conhecido por filmes pouco convencionais como Crash, M. Butterfly, A History of Violence e eXistenZ - ia começar a filmar The Talking Cure, história baseada na peça homônima de Christopher Hampton, que conta a relação de Freud, Jung, e a russa Sabina Spielrein já fiquei ansiosa para assistir.


David Cronenberg

As filmagens começaram a ser rodadas agora, no início deste ano, junto com a notícia do trio que e vai estrelar o filme: Keira Knightley no papel de Spielrein, Michael Fassbender, como Jung e Christoph Waltz como Freud.


A sinopse divulgada pela distribuidora australiana, dona dos direitos da peça já dá o que pensar:

"Uma bela mulher, enlouquecida por seu passado. Um ambicioso médico com uma missão de vencer. Um estimado mentor com uma cura revolucionária. Que os jogos mentais comecem..."


Waltz fazendo Freud, dirigido por Cronenberg tem tudo para dar certo! Vamos aguardar!!!

4 de janeiro de 2010

Pra pensar nesse início de ano...

Instantes

Se eu pudesse viver novamente a minha vida,
Na próxima trataria de cometer mais erros.
Não tentaria ser tão perfeito, relaxaria mais.
Seria mais tolo ainda do que tenho sido.
Na verdade, bem poucas pessoas levariam a sério.
Seria menos higiênico. Correria mais riscos,
Viajaria mais, contemplaria mais entardeceres,
Subiria mais montanhas, nadaria mais rios.
Iria a mais lugares onde nunca fui,
Tomaria mais sorvete e menos lentilha,
Teria mais problemas reais e menos imaginários.
Eu fui uma dessas pessoas que viveu
Sensata e produtivamente cada minuto da sua vida.
Claro que tive momentos de alegria.
Mas, se pudesse voltar a viver,
Trataria de ter somente bons momentos.
Porque, se não sabem, disso é feito a vida:
Só de momentos - não percas o agora.
Eu era um desses que nunca ia a parte alguma
Sem um termômetro, uma bolsa de água quente,
Um guarda-chuva e um pára-quedas;
Se voltasse a viver, viajaria mais leve.
Se eu pudesse voltar a viver,
Começaria a andar descalço no começo da primavera
E continuaria assim até o fim do outono.
Daria mais voltas na minha rua,
Contemplaria mais amanheceres
E brincaria com mais crianças,
Se tivesse outra vez uma vida pela frente.
Mas, já viram, tenho 85 anos
E sei que estou morrendo.


Jorge Luis Borges

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Fotografia C. Madoz

"O mundo inteiro é um palco,
e todos os homens e todas as mulheres são apenas atores. "


Shakespeare