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13 de agosto de 2009

QUANDO O AMOR FAZ MAL À SAÚDE: OBESIDADE FEMININA E EROTOMANIA (parte 3 de 5)

3. As fórmulas da sexuação

O axioma não há relação sexual sustenta as fórmulas da sexuação. Não há relação sexual significa dizer que não há, de partida, uma lei, uma regra de formação que ligue, que possibilite a relação entre homens e mulheres. Trata-se, aí, de uma inversão de perspectiva: da primazia do simbólico ao axioma de que o real é sem lei (Miller apud Coelho dos Santos, 2006, p. 91). Nas fórmulas da sexuação, aparecem os dois modos de fazer suplência à relação sexual que não há, ou seja, ao real sem lei: a sexuação masculina e a sexuação feminina. Assim, a modalidade de laço sexual é diferente para homens e mulheres. “O que uma mulher reivindica, seu sintoma, sua posição subjetiva, é estritamente diferente da posição masculina” (Coelho dos Santos, 2006, p. 191).

Para os meus propósitos, explorarei o que vem a ser a lógica do não-todo, que opera na vertente feminina das fórmulas da sexuação, e os avanços que ela permite realizar em relação à sexualidade feminina. Segundo Miller (2003), o não todo, como lógica da sexuação feminina, não é um limite ao tudo, não é uma fronteira, além do qual haveria uma transgressão. O não-todo também não pode ser pensado sob o modo do incompleto. A oposição completo–incompleto está no âmbito da lógica fálica, denominada por Lacan, nas fórmulas da sexuação, de lógica do todo. A lógica do todo diz respeito à vertente masculina da sexuação. Diz respeito à crença na exceção à castração, funda um conjunto por identificação ao modelo. Para compreender essa lógica é preciso sustentá-la nos mitos freudianos do pai da horda primitiva (Freud, 1912-13) e no mito do Complexo de Édipo (Coelho dos Santos, 2006). Nesta lógica, a feminilidade está revestida pelas insígnias da pobreza, da falta, o ser da mulher é marcado por um “a menos” irremediável.

O não-todo é uma lógica de funcionamento para além da lógica fálica. Nesse sentido, não funciona sob a crença da exceção à castração. A crença é na universalidade da castração. Não há a submissão à castração a partir da ameaça de castração e a posterior identificação ao modelo. A mulher já é castrada. Do lado da mulher, temos, então, “não a identidade, mas a diferença, o sem identidade” (Miller, 2003, p. 17). Nesse sentido, “[...] o ser feminino é suposto encarnar a diferença, inclusive consigo mesma, o que coloca de forma subjacente uma vacuidade essencial” (Id.). Como conseqüência, Miller aponta que a mulher receberia a sua identidade somente a partir de um homem.

Na sexuação feminina, como Freud apontou, a partida se joga a partir da reivindicação do falo, na substituição da mãe pelo pai e do pai pelo parceiro sexual. Esta substituição se coordena com o consentimento da mulher em ser o objeto de desejo de um homem, que, em Freud, pode ser pensado como a passagem da atividade à passividade na sexualidade feminina. Este é o modo como a mulher se insere na lógica fálica: ser o objeto causa de desejo de um homem.

Há, entretanto, uma outra vertente na sexuação feminina que aparece, em Freud, sob o tema do enigma da feminilidade e que Lacan formaliza sob o matema . Segundo Coelho dos Santos,

“Lacan contribuiu decisivamente para distinguir a reivindicação do falo, própria da sexualidade feminina, da feminilidade propriamente dita. Ele propõe formalizar esta última por meio do matema . Lacan equipara a feminilidade, o gozo da mulher – mais além do gozo fálico da mãe – ao Outro gozo.” (2006, p. 3).

Esta formalização permite circunscrever os impasses da sexuação feminina. Na vertente fálica, trata-se de uma mulher transferir para o parceiro amoroso o amor ao pai e o desejo de receber um filho dele. O outro passo diz respeito ao repúdio da feminilidade: “[...] é preciso que uma mulher efetue uma separação a mais da posição de objeto suplementar ao gozo feminino da outra mulher, ou seja, sua mãe.” (Coelho dos Santos, 2006, p. 6).

Segundo Coelho dos Santos (2006), esse outro gozo é o que Freud denomina como pulsão de morte. Trata-se do real sem lei, sem nome, sem a medida fálica que regula e submete todo gozo ao princípio do prazer. Na sexuação feminina, a pulsão de morte diz respeito ao gozo feminino da mãe, para além do falo. Trata-se de situar a posição que a menina ocupou, ao responder ao que falhou para a mulher, que foi sua mãe, em relação ao parceiro conjugal. Na análise de uma mulher, este é o ponto que se transmite da mãe, como mulher, à sua filha.

...........................................................Continua...

Veja a primeira e segunda parte.

12 de agosto de 2009

Notícias da neurociência

MAU HUMOR LIMITA A VISÃO
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Aquela noção intuitiva de que a pessoa mal-humorada tem uma visão limitada da vida, ou pelo menos das coisas que a cercam, foi comprovada por neurocientistas da Universidade de Toronto, Canadá, mostrando mais uma vez como as emoções filtram a informação sensorial que chega ao cérebro.


No estudo, os pesquisadores mostraram aos voluntários uma série de imagens que os deixavam contentes ou irritados. Na etapa seguinte, exibiram figuras compostas, em que uma face ocupava a posição central, que era circundada por paisagens. A instrução era para que eles se esforçassem para manter o foco na face central, coisa que os participantes mal-humorados conseguiram fazer facilmente. Em compensação, os que estavam de bom humor tiveram muita dificuldade para não prestar atenção nas paisagens apresentadas ao redor. O estado de humor literalmente muda a forma como o córtex visual opera, explicam os autores do artigo publicado no Journal of Neuroscience.

Fonte: Mente&Cérebro

10 de agosto de 2009

O amor, enquanto afeição humana, é o amor que deseja o bem, possui uma disposição amigável, promove a felicidade dos demais e alegra-se com ela. Mas é patente que aqueles que possuem uma inclinação meramente sexual não amam a pessoa por nenhum dos motivos ligados à verdadeira afeição e não se preocupam com a sua felicidade, mas podem até mesmo levá-la à maior infelicidade simplesmente visando satisfazer a sua própria inclinação e apetite. O amor sexual faz da pessoa amada um objecto do apetite; tão logo foi possuída e o apetite saciado, ela é descartada "tal como um limão sugado"!.

Emmanuel Kant, in 'Lições de Ética'

QUANDO O AMOR FAZ MAL À SAÚDE: OBESIDADE FEMININA E EROTOMANIA (parte 2 de 5)

2. A sexuação feminina

Freud (1931, 1933), ao investigar a sexualidade feminina, se interrogou sobre os destinos da relação primeva da menina com a sua mãe, anterior ao Complexo de Édipo. Chegou mesmo a se perguntar se, no caso da menina, a relação com o pai é capaz de substituir, completamente, a relação da menina com a sua mãe.

Segundo ele, nos avatares da sexuação feminina, a substituição da mãe pelo pai é feita, pela menina, a partir da descoberta da diferença sexual e da conseqüente decepção com a mãe por esta não ter e não dar o falo que ela, a menina, deseja. Surge, neste momento, a reivindicação do falo e, numa evolução favorável, a menina localiza o pai como aquele que tem o falo e pode lhe dar. O desfecho desse remanejamento, na sexualidade feminina, surge no consentimento da menina em substituir o pai por um homem e receber dele um filho, como equivalente simbólico ao falo que ela não tem.

Neste raciocínio, a reivindicação do falo é o operador que possibilita à menina separar-se da mãe e orientar-se em relação à sua sexuação como mulher. Freud designa o desejo de ter um pênis como sendo um desejo feminino por excelência (1933, p. 158). Não escapa a ele que a evolução edipiana da menina, introduzida pela inveja do pênis, é longa e difícil. O Édipo, ou seja, a orientação da menina para o pai, é um refúgio e ela não tem grandes razões para abandoná-lo.

Do que a menina se refugia quando recorre à ligação com o pai? Freud nos dá uma pista ao afirmar que a relação da menina com sua mãe permanece subjacente à sua relação com o pai, parasitando a organização da sua sexualidade como mulher.

Na perspectiva freudiana, a reivindicação do falo orienta a menina em direção à sexualidade feminina. Ela se aferra a essa reivindicação e não ultrapassa esse limite numa análise. Freud articula, nessa resistência, a reivindicação do falo com o repúdio da feminilidade. Para esclarecer esta articulação, recorro a Coelho dos Santos (2006), que propõe que, em Freud, a sexualidade feminina (Weiblich sexualität) não se confunde com a feminilidade (Weiblichkeit). A sexualidade feminina se resolve a partir do falo e seu substrato é a reivindicação do falo endereçada ao pai e depois ao homem. Segundo Coelho dos Santos, o mistério, para Freud, não era a sexualidade feminina, que se resolveria no campo da organização fálica, mas a feminilidade, que ele nomeia como continente negro, e que as mulheres também repudiam. A conclusão da autora é que a reivindicação fálica, à qual a mulher permanece fixada, representa uma manobra de proteção em relação à feminilidade.

De que trata, então, o repúdio da feminilidade na sexuação feminina? Tentarei delimitar esse impasse na sexuação feminina, a partir das fórmulas da sexuação, orientada por Miller e Coelho dos Santos.

........................................................................Continua...

Leia a primeira parte aqui

O sintoma anoréxico em uma menina de 8 anos

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O Discovery Home & Health apresenta um especial que esclarece um fenômeno infelizmente cada vez mais comum: a anorexia em crianças menores de 10 anos. Em 8 ANOS E ANORÉXICA, os telespectadores conhecerão a história de Dana, uma menina britânica obcecada por perder peso por razões que nem ela mesma entende. Este especial de 1 hora estreia domingo, dia 16 de agosto, às 23:00 horas, com reapresentação no dia seguinte, às 19:00 horas.

Um artigo do jornal Los Tiempos, reproduzido no website da Organização Mundial da Saúde (OMS) e publicado no fim de 2008, indica que a anorexia “afeta a população adolescente, mas nos últimos anos, a patologia tem evoluído de forma a atingir crianças cada vez mais jovens. A adolescência começa cada vez mais cedo na sociedade, e o mesmo ocorre com estes transtornos”.

Em 8 ANOS E ANORÉXICA, estes dados se reafirmam com estatísticas alarmantes: 80 por cento das crianças entre 11 e 14 anos se preocupam com sua imagem, e o número de crianças menores de 10 anos internadas em hospitais por distúrbios alimentares está aumentando.

O especial documenta o processo de recuperação de Dana durante um programa de 12 semanas na Rhodes Farm Clinic, um centro de reabilitação para jovens anoréxicas em Londres. Neste lugar, fundado pela Dra. Dee Dawson há 20 anos, as pacientes são submetidas a um rigoroso e controlado regime de “realimentação”, em que meta não é apenas recuperar peso (1 quilo por semana); as pacientes e suas famílias também realizam sessões de terapia para entender as razões que as conduziram à anorexia e evitar uma recaída, ou um retorno dos maus hábitos alimentares.

8 ANOS E ANORÉXICA é uma produção da ZKK para o Canal 4 da Inglaterra.