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18 de fevereiro de 2008

A CLÍNICA PSICANALITICA E O USO DE PSICOFÁRMACOS


....Atualmente as pessoas podem contar com um grande número de medicamentos que prometem acabar com o sofrimento, seja ele qual for. Alguns diminuem a ansiedade, outros aumentam a disposição, atacam a depressão, emagrecem, etc. Prometem não somente acabar com esse sofrimento, como também fazer isto de maneira rápida e sem que o sujeito pense muito a esse respeito. Numa época marcada pelo uso de psicofármacos, onde o que prevalece é a rapidez e a praticidade, qual seria o lugar da psicanálise? Como administrar o psicofármaco no contexto de um tratamento psicanalítico?
.... O questionamento do uso de psicofármacos tem sido assunto desde 1950, quando o primeiro neuroléptico começou a ser utilizado. Mas na pós-modernidade este tema tem tomado páginas de jornais e revistas, graças ao avanço na tecnologia das industrias farmacêuticas. A cada dia novas drogas chegam ao mercado. Mais modernas, elas contam com um efeito preciso em seu objetivo de remissão dos sintomas e com menos efeitos colaterais desagradáveis. Sendo encaradas como a solução de todos os problemas, as novas drogas chegam a mídia e são anunciadas como pílulas da felicidade, garantindo acabar com a angústia de maneira rápida e sem dor, tornando difícil para a população em geral resistir à estas promessas.
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....Nos dias de hoje, ninguém quer saber o significado da dor que está sentindo. A mídia não pára de gritar para quem quiser ouvir que a dor pode, facilmente, ser eliminada. Que podemos gozar de tudo à um preço muito baixo: ao preço de uma caixinha de remédio. Para a sociedade contemporânea isto soa como a solução de tudo e torna difícil impedi-la de trilhar o seu caminho baseado na busca química de satisfação e de bem estar.
....A psicanálise vai no sentido contrario desta corrente. O que não significa que ela desconsidere a utilidade e eficácia dos psicofármacos. Na verdade a psicanálise visa não somente a supressão dos sintomas, mas também pensar o papel que este sintoma desempenha na organização psíquica do sujeito. Isto é, na escuta psicanalítica o sintoma não é somente algo que atrapalha e que deve ser eliminado, e sim um elemento que possibilita o sujeito tomar posse de si mesmo como um ser desejante, se responsabilizando pelo seu desejo.
....Podemos dizer que a psicofarmacologia visa tratar o sintoma enquanto que a psicanálise trata o sujeito. Para o uso de medicação basta uma queixa, algo que cause sofrimento e o desejo de livrar-se desta dor. Em contrapartida, para a psicanálise é necessário que haja também um desejo de saber sobre o sintoma. A demanda analítica exige mais, exige querer tratar o sintoma não só pela via do sofrimento, mas também pela via do enigma, ou seja, um querer saber sobre o enigma do sintoma.
....O enigma do sintoma de cada sujeito, suas peculiaridades e principalmente seu significado é descartado no tratamento farmacológico. Ou melhor, a subjetividade é vista como um fator que atrapalha, é tratada como interferência ou fator perturbador. Isto acontece porque os psicofármacos possuem um ideal de eficácia: eliminar os sintomas e qualquer fator individual que altere este resultado deve ser desconsiderado. É exatamente nisso que altera o resultado da medicação que a subjetividade do sujeito é encontrada
....Como articular então, a psicanálise com a psicofarmacologia, já que a medicação exclui o sujeito e a psicanálise esta a serviço do sujeito?
Acredito que não só existe um lugar e uma demanda para a psicanálise, com também a articulação desta pratica associada com a terapia medicamentosa. A função do psicofármaco no contexto analítico não buscaria a redução dos sintomas ou adaptação social, mas propiciar calma ou ânimo suficiente para o paciente, possibilitando a fala e a associação de significantes, permitindo que a análise possa prosseguir, permitindo melhores condições para a elaboração dos conflitos, favorecendo a situação do sujeito em análise.



...................................................................Fernanda Pimentel
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